Moscou – dia 2

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Quando eu escrevi, no post anterior, que Moscou era eu cidade que te cansava eu não tinha noção do que estava dizendo. Moscou não te cansa: te deixa em frangalhos. Desde que cheguei, a 4 dias, não consegui mais escrever. E não consegui ver metade do que havia me proposto. Ainda não entrei em nenhum museu, nem no Kremlin, e nem sei se vou conseguir. A sensação que se tem, viajando de uma estação a outra do metrô, é de uma viagem intermunicipal. O que, pelas minhas pesquisas, eu conseguiria fazer em uma tarde, eu gasto o dia inteiro. E mesmo assim deixo a metade sem ver (não confie no meu guia: ele se mostrou uma furada. Serve muito bem como referência dos lugares. Como guia de programação é inútil).

O que eu ainda não vi (e, acredito, não vou ver): o Winzavod, centro russo de arte contemporânea, a galeria Solyanka, cinco dos sete arranha-céus stalinistas, o Parque Victory, com seus tanques da segunda guerra mundial, Museu Pushkin… Em uma semana é impossível visitar todos estes lugares. Moscou precisa de tempo. E não é pouco…

No dia seguinte a nossa chegada visitamos, como escrevi, a Praça Vermelha, Lubyanka e o bairro de Kitay Gorod, ainda assim deixando algumas das atrações de fora. Outras, como o Bolshoi, estavam fechados para reforma e rendeu apenas algumas fotos na entrada.

No segundo dia fomos direto para o Jardim dos Monumentos Depostos, que fica no parque ao redor da Nova Galeria Tretyakov (são duas, igualmente grandes). O Jardim foi o lugar escolhido para se colocar as estátuas retiradas após a revolução russa. A elas foram se juntando trabalhos recentes de artistas russos. Dentre a centenas de obras, muitas são medíocres, mas o passeio vale a pena. A entrada para o parque é de graça, se você for russo. Na mínima desconfiança da sua nacionalidade você é cobrado em 100 rublos (cerca de 6 reais) por um ingresso (este é outro ponto interessante de Moscou: sendo nativo, muitas das atrações são gratuitas ou quase. Dos estrangeiros é normalmente cobrados mais caro em ingressos. Dica: faça uma carteira de estudante internacional, que te dá direito a significativos descontos em muitas atrações).

Jardim dos Monumentos Depostos
Lenin nos Jardim dos Monumentos Depostos

Passamos batidos pela galeria e seguimos para o vizinho Parque Gorky. O que costuma ser um dos lugares mais festivos de Moscou estava quase as moscas. As duas montanhas russas (sem trocadilhos, por favor) estavam fechadas e nem o foguete russo que nunca foi para o espaço e virou um cinema 4D, seja lá o que isso significa, funcionava.

Onibus Espacial
Sim, um ônibus espacial que virou cinema 4D (?)

O passeio, a pé, seguiu até a Stolle, lanchonete de tortas que, dizem, é imperdível. Discordo: qualquer viagem pode passar sem a visita a este lugar, seu serviço ruim e suas tortas secas e sem graça. Dos quase 10 sabores salgados no cardápio, apenas dois estavam disponíveis: coelho e repolho. Por motivos óbvios optei pelo primeiro, que se não é algo memorável, também não decepciona. Das doces escolhemos a de limão: amarga e intragável.

Já o convento de Novodevichy, que fica ali perto, vale a visita.

NovodevickyConstruído ainda no século XV, o lugar já foi um forte importante para a segurança da cidade, uma vez que fica numa das margens do rio Moscou. Patrimônio da Humanidade pela Unesco, ainda é possível assistir a belíssimas missas da Igreja Ortodoxa Russa no lugar. Vimos uma as 17h e é algo de uma força impressionante: todas as mulheres presentes com velas e a cabeça coberta, um coral com vozes femininas conduzindo a cerimônia todo o tempo, contrastando com a voz extremamente grave do celebrante. Mesmo sem entender uma palavra, exceto “amém” – que, creio, entendi por contexto, já que era repetida ao final de cada frase do celebrante – é de trazer lágrimas nos olhos. Ao lado do convento está o cemitério mais “pop” de Moscou, o similar russo ao Pere Lachese, provavelmente. Ali estão enterrados de Serguei Eiseinstein a Boris Yeltsin, num verdadeiro “quem é quem” das artes, política e ciência do país. Neste também não conseguimos entrar. E aqui fica o conselho: ao sair so convento, vire à direita para o cemitério. Caso contrário é uma caminhada quilométrica ao redor do prédio (agradável nos primeiros minutos, à margem do rio, terrível na segunda metade, perto de uma movimentada avenida).

De novo, chegar à estação de metrô mais próxima requer uma boa sola de sapato: dali iríamos para um parque ao lado da Universidade de onde se tem uma boa vista da cidade. Para se chegar até a Vorob’evy Gory (ou Sparrow Hills, a Colina dos Pardais) são duas opções de metrô: a primeira, e mais usada, é até a estação do mesmo nome, que fica sobre o rio Moscou. Daí até o ponto é uma caminhada pela mata morro acima (de novo, duas opções: o caminho normal, mais longo, mas acessível ou a “eco trail”, eufemismo para “atralho”, pelo meio do mato). A segunda opção é descer do metrô na estação Universitet e daí passar pelo prédio sede da universidade, um dos sete arranha-céus stanilistas. O caminho também é longo (ok, vou parar de dizer que tudo é longe…). Da Colina dos Pardais se tem, de um lado, Moscou (com o estádio em primeiro plano) e do outro a universidade.

universidade
A universidade de Moscou, um dos 7 arranha-céus de Stalin

Se não bastasse a maratona o primeiro dia ainda terminou com uma passada na Catedral de Cristo O Salvador e um jantar em restaurante de comida típica da Georgia. O lugar, por si só, é impressionante. Se chama Galereya Khudozhnikov (indispensável dizer que na fachada vai estar grifado de forma completamente diferente) e fica anexo a uma galeria de arte. O restaurante é formado por cinco salões decorados com motivos típicos e tanto o serviço quanto a apresentação são divinos. Posso estar puxando a sardinha pro nosso lado mas achei a comida do lugar com um quê de mineira. Primeiro, porque a coisa mais típica de lá é um pão de queijo. Não como o nosso: o khachapuri (que em kartuli, a língua deles, significa justamente pão de queijo) é uma espécie de pizza, recheada e coberta com um queijo branco e suave, quase uma mussarela. É delicioso.

khachapuri
Khachapur: o pão de queijo da Georgia


E segundo, porque meu prato principal foi uma carne de porco com batata, coisa bem mineira, chamado objakhuri. Alê optou por um kharcho pomengrelski, uma mistura de porco e boi num rico molho de nozes e adjika. Bom, mas pesado. E concordo: nada de mineiro nisso, mas tanto o pão quanto o outro prato poderiam se passar por coisa nossa.

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