A primeira e mais importante coisa que você precisa saber a respeito de Ushuaia: aqui o tempo muda o tempo todo. Chuva, frio, vento, neve, sol, tudo pode acontecer no mesmo dia, quase sempre ao mesmo tempo. O que não muda nunca é o frio. Ou como diz uma piada local: em Ushuaia não é sempre assim. Existem um ou dois dias no ano onde ele dá uma trégua.
O que traz turistas de tudo quanto é lugar a este (literalmente) fim de mundo é justamente isso: o desejo ir o mais longe possível. Depois de Ushuaia só a Antártida, que está mais perto daqui do que El Calafate (aliás, se estiver pensando em fazer a viagem, este é o ponto de partida ideal. A partir de Ushuaia são 10 dias de passeio – três de ida, três de volta – e o pacote sai por volta de 4000 dólares, as vezes menos).
Capital da Província da Terra do Fogo (e das Malvinas, apesar da ilha ser inglesa), Ushuaia não passa de uma pequena cidade com poucos mais de 30 mil habitantes. Orientar-se por ela é fácil: ao sul está o porto e o Canal de Beagle, de onde saem os barcos. Ali também fica o aeroporto. Ao norte as montanhas sempre nevadas e o Glaciar Martial. Ao leste está a única estrada de acesso à cidade, que te leva a Tolhuin e dali a Rio Grande, através da Rodovia 3. E a oeste está o Parque Nacional do Fim do Mundo.
A primeira coisa a se fazer quando chegar na cidade é procurar o centro de informações na Av. Maipu, ao lado do porto. Com uma equipe atenciosa, eles irão te dar todas as informações necessárias para a sua viagem. Ali também é possível carimbar, gratuitamente, o seu passaporte com a estampa da cidade. É uma babagem, mas quem não quer ter o carimbo do fim do mundo no passaporte?
Ao lado do Centro de Informações saem os passeios mais procurados em Ushuaia: a navegação pelo Canal de Beagle. Com preços variando entre 200 e 385 pesos (R$90,00 a R$170,00) o que difere entre eles é o tempo e o destino do passeios. As mais baratas duram em torno de 2,5 horas e te levam exclusivamente ao Farol Les Eclaireurs e a duas pequenas ilhas, habitadas por lobos marinhos e aves locais. Com mais meia hora e 50 pesos é possível conseguir uma embarcação menor, chegar mais perto dos animais e ainda caminhar pelas Ilhas Bridges. Aumente outra meia hora e mais 50 pesos e os barcos te levam mais distante, até a Ilha H. Quer ver pinguins? Separe 5,5 horas e trezentos pesos e os barcos te levam até eles. Quer caminhar junto com as simpáticas aves? Então o seu pacote vai custar, além de 385 pesos, passeio de ônibus até a Fazenda Harbeton – a primeira na região; o ticket de entrada na fazenda e o passeio de barco, em total de 6 horas. Apesar disso a empresa que opera exclusivamente o circuito, a Piratour, não garante a visibilidade dos bichos, uma vez que no inverno as aves migram. Todos os passeios saem pela manhã e a tarde.
O segundo passeio obrigatório na cidade é a visita ao Parque Nacional. Também da Av. Maipu, a uma quadra do Centro de Informações, saem as vans que te levam ao Parque. O custo, ida e volta, é de 85 pesos (37 reais), além de 60 pesos de entada no Parque para brasileiros (R$26,00).
Por fim o terceiro passeio é ao Glaciar Martial. A partir do centro é possível pegar um taxi até a base da montanha (40 pesos) e dali acessar o ponto mais alto de teleférico (50 pesos). No inverno o local é ponto de esqui e no verão, caminhadas.
Com mais tempo é possível também visitar a cidade vizinha de Tolhuin e os lagos Escondido e Fagnano. Com mais tempo e disposição é possível fazer esse mesmo passeio em um 4×4 entre a vegetação e geleiras – conhecemos um brasileiro na viagem que fez e disse ser sensacional.
Fora os passeios, a cidade pouco reserva: uma rua principal chamada (adivinha?) San Martin, quase sempre engarrafada nos horários de pico; algumas poucas lojas de souviniers, outro tanto de artigos de inverno e alguns bons restaurantes que vale a pena visitar.
Ushuaia – Onde e O Que Comer
Ushuaia não é uma cidade barata – mas nem por isso você deve se privar de visitar os bons restaurantes da região. O destaque, aqui, são os frutos do mar, sobretudo a Centolla, ou caranguejo gigante. Presente em quase todos os cardápios, ela divide o posto de estrela local com a Merluza Negra (ou Sea Bass), um peixe de carne muito branca e saborosa. Some a isso o cordeiro e você tem a base de quase todos os restaurantes locais. O que difere entre eles é o cuidado na apresentação e o serviço. Mesmo os preços pouco diferem: tanto um quanto outro em torno de 100 pesos (45 reais) o prato.
No centro, o Almacén de Ramos Generales é o mais descontraído. Mais para wine bar que restaurante, serve também café da manhã e tem apresentações musicais às sextas. Vale a visita para ver a decoração descolada e tomar a cerveja local: a degustação, com três taças (trigo, Ale e Negra) custa 30 pesos.
Também na região central, o Maria Lola é despretencioso e quase sempre cheio. Tem bons pratos, carta de vinho decente e a melhor (e mais cara) merluza, acompanhada de centolla, polvo mexilhão. Um abuso.
Um pouco mais afastado, mas ainda acessível a pé – ele fica a 4 quadras da Avenida principal, no alto de um morro – o Kaupé é eleito por muitos o melhor da cidade, mas o que esbanja é mal gosto na decoração e pretensão na elaboração. O serviço é atencioso – as vezes até demais – mas os pratos não diferem dos outros citados aqui. De cardápio pequeno e enxuto, o destaque são os frutos do mar. Eu já disse que a decoração é um equívoco?
Para visitar o melhor restaurante da cidade é preciso ir de taxi. No caminho para o teleférico, o Chez Manu ganha dos concorrentes em tudo: atendimento na medida certa, pratos excepcionais, vista maravilhosa e decoração de bom gosto. Os 60 pesos extras do transporte valem a pena. Nossas entradas – uma sopa de cebola gratinada e um prato de frutos do mar defumados no próprio restaurante – estavam perfeitos. Os principais – uma centolla gratinada e um cordeiro cozido com vegetais por 8 horas – inesquecíveis. Vale a visita.
Na lista dos melhores restaurantes do fim do mundo faltou o pequeno Kalma, na Av. Antártida Argentina. Pequeno e discreto, mais dedicado à cozinha de autor, estava fechado para um evento no dia que escolhemos visitá-lo. Uma pena: na aparência parecia ir para o top 3 dos restaurantes de Ushuaia.
Patagônia e Terra do Fogo | excursionismo
[…] escrevi aqui o relato da viagem à Patagônia (mais precisamente a El Calafate e El Chaltén) e à Ushuaia, na Terra do Fogo argentina. Pois bem. Finalmente consegui terminar o vídeo. Assista e comente. […]
Lucélia e Luciano
Amei esse relato, bem objetivo e com preço de tudo.