Viajar junto é um jogo de poquer (ou: como chegar à Ikea Moscou)

“Ai meu deus… Se eu for num país que tem Ikea e eu não vou, eu passo mal…” Alê Faria, minha esposa

Ikea MoscouViajar junto é como um jogo de poquer. Você precisa abrir de algumas cartadas, blefar algumas vezes e de vez em quando confiar na sorte e na experiência. Nosso terceiro dia em Moscou foi dos mais divertidos e aventureiros.

Pela manhã, no hotel, trocados dicas e comentários de viagens com duas brasileiras de Natal que estavam vindo dos balcãs (eu, que tinha acabado de ler Sarajevo, do Joe Sacco, e adoro a música da região, fiquei ainda atiçado em fazer o mesmo roteiro). As duas, que trabalham em um banco na capital potiguar (meninas, se acaso lerem isso aqui, entrem em contato) pareciam estar secas de saudade do português e desfilavam casos da viagem metrô a fora. O destino delas era Lubyanka (espero que tenham ido ao Loft) e o nosso o parque de Tsaritsyno, ao sul de Moscou. Não lembro onde havia lido sobre o lugar. Nas minhas anotações tinha escrito: “construída entre 1775 e 1795. Fontes dançantes, o lugar mais bonito de Moscou. Metro Tsaritsyno (linha 2, verde). Não fica longe do hotel”.

O “não fica longe”, desnecessário falar, foi inútil. A pé seriam umas duas horas de caminhada. De metrô foram uns 45 minutos, com duas trocas de trens e alguns minutos desorientados ao sair da estação. Como acredito que sempre é possível tirar proveito desses momentos de “onde estou e como faço pra chegar onde eu quero” que as viagens propiciam (eu gosto me perder), deste, em particular, tiramos um que usamos o resto todo da viagem. Queríamos ir pro parque mas saímos da estação pro lado errado (pro lado esquerdo, quando deverímos sair, como o Leão da Montanha, pela direita) e acabamos chegando num típico mercado regional, com barracas de doces e verduras. Tirando fotos, ouvimos de uma das feirantes: “turistov, hahaha…” Ou: turistas, hahaha… Como que querendo dizer: o que diabos vocês estão fazendo aqui, no meio do nada, fotografando uma feira regional? Sem entender que o bom de viajar é justamente isso, conhecer também o local e não apenas os pontos turísticos. Depois disso, em qualquer conversa com os locais (na negociação em uma compra, por exemplo, ou quando víamos que tinhamos entrado numa roubada), a frase final era sempre “turistov, hahaha…”.

O parque Tsaritsyno, apesar de judiado pelo inverno que havia passado (as águas do lago ainda mantinham uma fina mas visível camada de gelo) é realmente o lugar mais bonito de Moscou. Não tem muito: um grande e bem cuidado parque, com bancos e grandes recém-pintados (Alê vai levar um pouco da tinta russa como lembrança em sua calça jeans), um bonito lago, com uma pequena ilha, uma igreja, um palácio e ruínas de uma habitação anterior, além de outros prédios. O palácio foi reformado em 1984 e se mantém muito bem cuidado. Mas o lugar é mágico, de uma harmonia única.

Do parque a idéia era não deixar a Alê passar mal e visitar uma das três Ikea que existem em Moscou. Optamos por uma também na parte sul que parecia ser a maior e que fica ao lado de um shopping chamado Mega, também do grupo sueco. Segundo o site, exclusivamente em russo, era só pegar o metrô para a estação de Temply Stan e daí o ônibus para a Ikea/Mega. Doce engano… De onde estávamos até a estação voaram quase 50 minutos. Outros tantos foram tentando achar o ponto do ônibus, sem sucesso. Mais outros procurando uma rede wi-fi, dentro do shopping, para conferir as informações no site até se chegar a (errada) conclusão que afinal, a Ikea não fica tão longe assim de onde estamos. Realmente não fica, mas o caminho era uma via expressa vencida com uma caminhada pelo acostamento e cruzamentos perigosos. Chegamos, cansados e famintos. Se Alê tivesse que passar mal, que não fosse por não visitar sua loja predileta.

No retorno optamos, sensatamente, por um taxi. Que, depois de quase meia hora, não havia dado sinal de vida. Com o pouco inglês da atendente (se limitou a um ten minutes) ela apontou o ponto de onibus: uma alternativa que resolvemos arriscar. E víamos, a cada minuto, a estação onde achávamos que iríamos pegar o metrô se afastar mais e mais e mais. Quando o ônibus parou, em frente a outra estação que não fazíamos ideal qual era, nossa reação foi de alívio. Que só melhorou, ao ver que esta, ao contrário da outra, estava a apenas 4 paradas do nosso hotel.

Viajar junto é como em um jogo de de poquer…

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