Pacific Crest Trail S01E05

Pacific Crest Trail, PCT, Jeff SantosA trilha da trilha: Madeleine Peyroux – California Rain

Um dia que começa com um beija-flor vindo na sua barraca não pode ser um dia ruim. Nem mesmo se a previsão do tempo diz que tem 90% de chance de chuva e a temperatura vai ficar em torno dos dez graus…

Poucos metros depois de começar a caminhada do dia, às 6:30 da manhã, outro sinal que o dia seria bom: um lindo arco-íris tomou conta do céu e me acompanhou por boa parte do dia. A chuva ia e vinha, forte o suficiente para eu colocar a capa, leve o bastante para refrescar o suor. Estava frio: boa parte do dia caminhava com uma camisa manhã longa, mais a blusa de frio e a capa de chuva. Mas andando rápido e morro acima era inevitável não suar.

A noite tinha sido difícil. Dormi mal, incomodado com o vento, a dor nas pernas e as queimaduras de sol nas coxas: com a chuva do primeiro dia troquei as calças compridas que estavam ensopadas pelo calção e acabei esquecendo de passar o protetor. Vermelho e ardido, acordava a cada virada no saco de dormir. Ainda assim acordei disposto, o beija-flor veio me dar bom dia, o arco-íris o seu alô e segui feliz da vida morro acima.

Logo depois de onde acampei vi um par de bastões de caminhada na beira da trilha. “Alguém precisou ir ao banheiro”, pensei e segui. Dez quilômetros depois vejo uma mensagem que Tyler tinha mandado: “se você ver dois bastões de caminhada pretos no caminho traz que são meus. Parei pra colocar a roupa de chuva e não sei onde eles ficaram”. Caramba… eu não iria voltar tudo aquilo. Apenas respondi que sim, eu havia visto na milha 80, e ele deveria mandar uma mensagem pras outras pessoas que sabíamos estavam vindo mais tarde: JP, Sydney, Austin, Ed. E com a bateria do meu celular nos finalmente, coloquei no modo avião e segui, pensando que talvez encontraria com Tyler em breve. “melhor apertar o passo”, pensava.

Minha única parada foi pra devorar um pacote de chocolate enquanto esperava mais chuva. Passei batido pelo reservatório de água e logo depois encontro dois fiscais da trilha, voluntários da PCTA. Não me pediram nenhuma das autorizações que carrego, mas me fizeram várias perguntas, que respondi afirmativamente: você é thru-hiker, tem a autorização, começou no dia certo, está carregando fogareiro, tem a autorização… não sei o que teria acontecido se tivesse dito não a alguma delas. Talvez uma multa, mas não creio que me tirariam da pista por conta disso.

Cheguei ao local que havia escolhido para acampar, logo depois da milha 100, às 2:30 da tarde. Tyler não estava ali e era pouco provável que tivesse andando até a vila de Warner Springs, 13 km a frente. Montei a barraca e comecei a preparar meu jantar quando ele chegou. “Você deve ter passado por mim quando parei na água”. Só pode ter sido…

O dia foi longo – 35 km em 8 horas – mas tarde foi tranquila. E amanhã será ainda mais: chegar cedo em Warner Springs, comer hambúrguer, lavar as roupas e tomar o primeiro banho em uma semana. Eu estou fedido.

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