Istanbul. (not Constantinopla)

Estou sentado na poltrona 21J da classe econômica de um voo da Alitalia com destino a Roma. Estamos prestes a decolar: já foram dadas as instruções de segurança e, ao contrário das versões em piano do Richard Clayderman dos voos da Iberia, os alto falantes estão mudos. Mas nāo há silêncio: uma criança insiste em gastar suas forças em um choro alto e estritente. Busco meus fones de ouvido – comprar fones de ouvido que cancelam o ruído exterior foi das melhores aquisições que fiz – e plugo. O que ouço é uma música dramática, com solos de trompas enfurecidas, fortes, pugentes. Lembra Richard Wagner, mas não acho que os italianos teriam um alemão como trilha sonora. Olho pro lado e o Senhor Rubin, que deveria estar no meu lugar e não na janela, está lendo um livro com partituras nele. As letras miúdas no topo dizem “The Small Trinary Form”. Olho para aquilo e como numa Fantasia de Walt Disney, notas, sustenidos e bemois começam a dançar na minha frente: se colorem, saltam do papel e desaparecem, num balé que só é visível a meus olhos.

Estou indo para Istanbul, minha primeira vez na cidade que era, até então, um dos meus destinos desejados, mas ainda não visitados. O convite veio de supetão: a empresa onde trabalho cuidando do planejamento de eventos corporativos irá realizar ali o lançamento de um novo produto, daqui a três meses. Há quatro dias recebi a informação que deveria buscar um parceiro local, levantar possíveis locais para o evento e visitar a cidade, a fim de certificar se as escolhas do parceiro e as pesquisas que eu havia feito pela Internet eram realmente as melhores. Não viajo sozinho: uma colega de trabalho me acompanha. Ela está sentada entra eu eu senhor Rubin – sei seu nome porque o comissário veio me perguntar se eu tinha feito opção por refeição vegetariana. Ela intercala a leitura da biografia de Lobão com o relato de 127 Horas, este em inglês, para praticar o idioma para quando chegarmos à capital turca.

No total serão 24 de viagem, desde a saída de Belo Horizonte. Voamos até São Paulo, onde enfrentamos bem mais de uma hora de filas que pareciam não terminar: primeiro para o checkin, onde Mario, o atendente inexperiemente da Alitalia que nos atendeu deu informações erradas e não soube finalizar o processo, transferido para outra pessoa. Depois a fila para o raio x, onde as atendentes pareciam achar que se falando em português alto e pausadamente seriam entendidas por qualquer pessoa (E S T A   A G U A   É   S U A?   N Ã O   P O D E!). Para a Polícia Federal, muitos outros minutos, enquanto o local onde deveria existir a fila para estrageiros, ali do lado, seguia vazio. E por fim a fila para o avião, com adolescentes em excursão e guias desesperadas, contando o número de crianças a cada momento, tentando se certificar que todos os 24 meninos e meninas haviam embarcado e nenhum havia sido deixado pra trás. Por causa da urgência da viagem e preço da passagem pensei que conseguiria um upgrade para a business class. Ilusão. As próximas 10 horas serão na classe ecônomica.

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