Appalachian Trail S01E60

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Dia 60, 13/06: Rock Spring Hut (927.9) a Pass Mountain Hut (943.2)

Distância do dia: 15.3 milhas | 24,62 km

Distância total:  952 milhas |  1532,09 km

Já tem uns três dias que estou lutando com uma canelite. Já tive isso antes, mas dessa vez a dor tá mais abaixo, quase na ligação com o pé, na frente do tornozelo. Astrágalo, aprendi que esse é o nome. Tenho feito o que dá: andando devagar, deixando o pé pra cima quando estou na barraca, colocando água gelada quando posso, fazendo alongamento. A dor é pior pela manhã. No decorrer do dia, com o corpo quente, fica mais tolerável.

Por causa da dor andei pouco e devagar hoje. E estou vendo o que fazer amanhã: o mais provável é que ande o limite pra sair do Shenandoah, umas 20 milhas. Queria ir um pouco mais e chegar em Front Royal, a próxima cidade, mas tenho dúvidas se consigo.

Lento e arrastado, o dia custou a passar. Tinha me programado pra tomar café da manhã em um dos restaurantes do parque e levei duas horas pra andar as quase 4 milhas até ele. Na hora do almoço parei em outro camping, enchi a bolsa com a água gelada que saía da torneira e fiquei meia hora ali a perna no banco, batendo papo com o Candyman e o francês, que ainda não sei o nome.

No Shenandoah thru hiker vira atração turística. O povo passa e pede pra tirar foto. “Olha minha filha! Aquele é o animal que mais fede e que mais come em todo o parque. O Thruhikers famintus… vai lá tirar uma foto com ele, mas não chega muito perto não…”

Foi logo depois da foto que encontrei com o urso da foto. Candyman tinha saído, achei que pra caminhar, mas tinha ido pra outro lado. Deixei o francês almoçando e segui, subindo mais uma montanha. Quando olho à frente, tá lá ele de boa bem no meio da trilha. Parei, tirei foto e ele lá, a uns 20 metros de mim, talvez menos. Nem me viu, ou não deu bola. Atravessou a trilha e entrou no mato. Quando fui passando onde ele estava batia os bastões de caminhada um no outro. O barulho, dizem, assusta os bichos. O francês vinha depois de mim. Chegou aqui no acampamento dizendo que ficou uns dez minutos parado porque tinha um urso na trilha. Só pode ser o mesmo.

Com os encontros de hoje – tinha outro do lado da trilha chegando no acampamento que fugiu assim  que fui chegando – urso é o bicho que mais vi na trilha. Foram 7. Dos mamíferos, só não vi mais que esquilo ou aquele roedor, o tâmia (também aprendi que esse  é o nome em português do chipmunk). Dos outros bichos e insetos só não vi  mais que mosquito. Esse nem conta. Só aqui onde eu estou tem um milhão deles, de todos os tamanhos. De moscas gigantes, que tentam se fantasiar de abelha (são pretas com uma lista amarela) e que fazem um barulho infernal (sério: vou dormir de tampão de ouvido) a minúsculos borrachudos que te atacando em enxames. Depois do trauma da semana passada não dei besteira de ficar de bobeira lá fora. Preparei meu jantar e vim comer na barraca. O máximo que pode acontecer é o cheiro atrair mais um urso… Já me acostumei com eles. Mas com os mosquitos…


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