Appalachian Trail S01E40

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Dia 40, 24/05: Partnership Shelter (532.4) a O’Lystery Pavillion (556.5)

Distância do dia: 24.1 milhas | 38,78 km

Distância total: 565.3 milhas | 909,76 km

Um quarto de trilha. O dia mais longo. O dia onde a chuva só deu trégua na hora que eu entrei num restaurante pra almoçar…

Mas antes disso: já viu bucho? A iguaria? Já viu cru? Meu pé tá parecendo um bucho. Branco, desbotado e enrugado, com umas dobras estranhas e um cheiro forte pra dedéu. Adoro bucho. Amo de paixão. E vendo o meu pé no final do dia lembrei da dona que vendia bucho lá no Sidil, onde eu morava. Eu via ela descendo a rua a lata de óleo na cabeça e já correia pra ir pedir minha mãe pra comprar. Quer me agradar? Cozinhe bucho.

A trilha hoje passava muito dentro de pastos. Grama, terra mais solta, sem árvores… ou seja: muita lama. No início até tentava desviar das poças, buscava o lado seco, saía pra fora da trilha… Mas depois que o pé já estava encharcado já n ligava e saia pisando no barro mesmo.

Dormir em Shelter é sempre estranho. Aquele tanto de gente amontoado, cada um com seus costumes e habitos, aquela confusão… Eu fico com a impressão que quando acampo sou o primeiro a sair, lá pelas 8 da manhã. Mas no shelter às 5:30 já tinha gente levantando, arrumando mochila, fazendo barulho. Com isso lá pelas 7 eu já estava na trilha.

Ainda pela manhã cruzei com um trail magic colocado dentro de uma escola/museu. Um cômodo, uma sala pra uns 20 alunos, que funcionou ali até 1890. Hoje tinha lá dentro tudo que os caminhantes pudessem precisar: rolos de papel higiênico, absorventes, pomadas, bandanas, balas, chicletes e pirulitos, frutas e refrigerantes. Era entrar e pegar. Quando cheguei tinham outros caminhantes na porta, os que tinham acordado madrugada. Dei um oi, desejei bom dia e ficou por isso. Pouco depois, quando paro pra fazer uma foto, um deles passa por mim, pirulito na boca, a gente comenta algo sobre a chuva. Depois que ele passou fiquei reparando sua mochila laranja, pouco comum na trilha, e fiquei pensando onde tinha visto aquela mochila…

Só depois de um tempo que caiu a ficha: o cara que jogou o lixo na trilha! Nem reconheci o sujeito… Fiquei pensando que poderia ter brincado alguma coisa com ele. Mas ele seguiu, pirulito na boca.

Logo depois a trilha cruza a linha de trem e pega um caminho de madeira, por causa da lama. E bem no meio do caminho tá lá o pauzinho do pirulito… ou ele deixou só pra me irritar ou tem realmente um problema em carregar o lixo.

Bem no meio do dia a trilha cortava uma estrada, entre um posto de gasolina e um restaurante, o The Barn. Ele é famoso pelo Hiker Burguer, um hamburgão com 450g de carne. Mas eu estava seco mesmo era em café e panquecas, mas cheguei lá só meio dia e já não serviam. Tive que ir no hambúrguer mesmo… Mas não fui no gigante: peguei um menorzinho, só com 300g, e pedi couve-flor empanada de acompanhamento. Se eu estivesse no meu estado normal teria dito que achei tudo uma bosta, sem gosto, mal feito. Mas aqui, meu amigo… posso falar que foi o melhor hambúrguer que comi.

Uma coisa que caminhante tem que acostumar é deixar a mochila no lado de fora dos estabelecimentos. Nesse não era diferente. Antes de entrar, além da mochila, deixei também meus sapatos sujos de lama e minhas meias molhadas e entrei de chinelo. Na saída tô lá calçando o tênis, olho de lado e tá lá a mochila laranja… Só de birra peguei o palito no meu lixo e coloquei na mochila do cara…

Com o tempo úmido como está, o dia longo como foi, eu imundo e cansado, estava planejando ir pra um hostel. Um banho quente e roupas limpas – mesmo que amanhã voltassem a ficar sujas de barro – iria ajudar. Tentei falar com os dois perto, mas não consegui sinal. O jeito foi acampar. E torcer pra eu conseguir falar no hostel que estou planejando ficar amanhã.


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