Appalachian Trail S01E10

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Dia 10, 24/04: Wayah Bald Shelter (120.8) a Nantahala Outdoor Center (137.3). Distância oficial: 16.5 milhas. Minha marcação: 27,1 km, 45.203 passos, 200 andares. Distância Total Oficial: 235.12 km

Minha mochila estava pesando pelo menos uns dois quilos a mais por causa da roupa molhada. As meias também estavam. O sapato, encharcado. Saí do Shelter com a roupa que dormi, coloquei por cima uma blusa de manga comprida e a jaqueta. A meia molhada ia fazendo fricção no tênis, completamente sujo de barro. A trilha tinha hora que parecia uma raia de piscina, de tanta água. Se não era assim, era o barro. Tinha que sair pisando no mato e procurando os pontos mais altos – uma pedra, por exemplo- pra evitar não enfiar ainda mais o pé na lama (e olha que de enviar o pé na lama eu entendo…).

Imagina um abrigo de ponto de ônibus. Duas paredes laterais, uma parede no fundo, um teto inclinado. Agora imagina isso feito de madeira, com uns 2 metros de altura, uns 2 de profundidade e uns 4 de largura. É assim um abrigo típico na Appalachian Trail. São chamados de Shelter e estão dispostos a mais ou menos uns 10 quilômetros um do outro. São vários, mas eu tenho evitado usar, porque na maioria das vezes são enfestados de ratos. Mas ontem não teve jeito. Com a chuva caindo o dia inteiro, eu ensopado, no primeiro shelter que passei eu fiquei. Tava andando com o Jacob, que ainda ficou em dúvida. Eu não: primeira vaga que abriu (a regra nos shelters da AT é clara: quem chegar primeiro tem direito) tratei de colocar meu saco de dormir no lugar. Quando a gente chegou tava cheio, mas felizmente pra gente as pessoas foram encarando a chuva. Exceto um cara que já tava ali a dois dias…

Esse Shelter especificamente era pra 6 pessoas. Quando chegamos tinham 6. E um cachorro gigante (sério, nunca vi um bicho tão grande). As outras duas pessoas que desistiram o Nick e o Jacob pegaram. Ficamos eu, os dois, o cara que tava morando ali a dois dias, a dona do cachorro e o cachorro. A tarde foi chegando e ela não aguentou: ligou pro marido e pediu pra ele ir buscá-la. Antes distribuiu a comida que tinha desidratado em casa pra gente. A trilha pra ela terminava ali.

Caímos os quatro no sono e quando acordei deviam ter umas 20 pessoas se amontoando no abrigo. Gente dependurando rede, fazendo varal pra secar roupa, tentando se encaixar em cada pedaço de madeira ou terra seca que ainda existia. A chuva continuava e a temperatura tinha caído muito – beirava zero grau. Só cheguei meu saco de dormir um pouquinho pro lado, botei o fone e voltei a dormir. 

Pela manhã a multidão tinha se dissipado. Um tanto tinha ido embora, outro tanto montado barraca ali perto. Éramos 6 onde deveria ser isso mesmo, mas ainda tinha um sujeito numa rede enfrente à gente. O dia estava fechado, mas dava pra ver que não iria chover mais. Botei toda a roupa molhada numa sacola, um calção seco por cima da ceroula que tava usando, as meias molhadas e os tênis encharcados e saí por volta das sete.

Uma das vantagens de tênis sobre botas é que o troço seca rapidinho. Evitando as poças e a lama, ainda na parte da manhã meus pés já estavam secos. O dia ficou encoberto, sem dar pra ver nada da paisagem. Só chegando no destino do dia a coisa mudou. O dia clareou e a vegetação mudou pra quase uma Mata Atlântica, com muito verde e cachoeiras. 

O NOC – Nantahala Outdoor Center é um espaço gigante dedicado à esportes de aventura. Caiaque, bote, bike, trekking, tem de tudo aqui. Além de um albergue, dois restaurantes e uma loja de equipamentos. Com essa infra deu pra lavar e secar as roupas, comer uma pizza, comprar gás que tá acabando e recuperar as energias pra amanhã: 16 quilômetros de subida, mais de mil metros de elevação.

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