Dia 07, 21/04: Deep Gap (85.4) a Long Branch Shelter (102.3). Distância oficial: 16.9 milhas. Minha marcação: 24,2 km, 42.039 passos, 172 andares. Distância Total Oficial: 178.8 km
Vovô, vira o lobo?
O lobo é o personagem predileto da Lis. Não tem pra Chapeuzinho, nem pros Porquinhos, muito menos pra outros personagens que crianças da idade dela (ela está com três anos) gostam, como as princesas. O lance dela é o lobo. Vovô babão aqui hora vira o lobo mau, que faz voz empostada e corre atrás dela, hora é o lobo bom, que a ajuda, leva pra passear e tudo mais.
O lobo que estava rondando o acampamento ontem à noite era o mau, dava pra sentir. Uivava muito perto da barraca e quando acordei com aquele barulho fiquei pensando na Lis. Acho que ele foi caçar onda por ali por causa dos Punks (não falei deles ainda né? São outros que já cruzei umas vezes. São três, dois caras e uma moça, e são aquele tipo de pessoa que certamente seriam meus amigos em BH. Poderiam ser facilmente uma banda. Um dos caras parece filho do vocalista do Butthole Surfers, com aquele chapéu de caubói texano. A menina, a irmã mais nova da Beth Ditto).
Os Punks chegaram já tava escuro. E chovendo. Pela movimentação deles deu pra sentir que não dependuraram a comida. Acho que foi isso que atraiu os coiotes. Mas a chuva aumentou e os uivos pararam, e eu voltei a tentar dormir, ainda pensando na Lis.
Tenho dito problemas com minha barraca, e tenho visto que não sou o único. Esse modelo deixa entrar umidade e alguma água se for montada de forma precisa. O problema é que quando já está chovendo ou escurecendo você não consegue a precisão que ela exige. Além dos uivos, acordei várias vezes a noite com a sensação que tinha entrado água.
Acordei cedo e o vocalista me confirmou. “Que noite, hein? Você ouviu os coiotes? A gente chegou ontem tarde e eu não dependurei a comida…” Hã. Sei… Troquei umas palavras com o senhor que também tinha passado a noite ali, despedi e saí.
O dia parecia tranquilo, e foi. Plano, sem muitas dúvidas, gostoso de caminhar. O problema é que este ano teve uma grande queimada por aqui e a região é puro carvão. Dizem que é o ano mais seco na AT, mas não tem sido problema achar água.
O objetivo do dia era cruzar a marca de 100 milhas, que fica no topo do Monte Albert, onde tem uma torre de observação. A subida final é osso: uma escalaminhada braba, nas pedras, segurando em galhos. Quando cheguei lá, a chuva chegou comigo. E quando vi aquele tanto de degrau pra subir a torre desisti. Observei dali de baixo mesmo, fiz meu registro e tchau. Tô acampando perto de um Shelter, e amanhã promete ser tranquilo de novo. A chuva, que tinha dado trégua no final da tarde, voltou a cair. Espero que a barraca tenha sido bem montada hoje.
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