Dia 06, 20/04: Dicks Creek Gap (69.6) a Deep Gap (85.4). Distância oficial: 15.8 milhas. Minha marcação: 23,1 km, 39608 passos, 293 andares. Distância Total: 142,5 km
Eu menti.
Era uma da tarde quando cruzei a fronteira da Geórgia com a Carolina do Norte. Estava animado de deixar pra trás um dos quatorze estados que espero cruzar. O marco é só uma placa de madeira em uma árvore e um cano de metal que não sei pra que serve. Sabia que iria cruzar hoje, mas não esperava que fosse tão cedo. Um caminhante falava ao telefone, outro encostado na árvore e se não tivesse visto a foto antes teria passado batido. Me preparei pra fazer um vídeo bacana chegando e cruzando a linha imaginária. Tirei o steadicam e preparava o celular quando desaba um toró. Chuva tropical total, tipo aquelas de Manaus e Belém.
O cara que tava encostado na árvore já tinha saído caminhando e o outro teve a mesma ideia que eu: me esconder em uma pedra no alto do morro, bem em frente à divisa. Coberto da chuva, com o marco na minha frente, poderia pelo menos fazer um time-lapse e gravar os outros caminhantes que eu sabia que vinham atrás: os três caras que estavam no hostel comigo e vieram na mesma carona e mais um que eu havia cruzado (falo mais dele daqui a pouco)
Esperei, esperei e nada. Devem ter se escondido da chuva também. Foi nessa hora que resolvi publicar o post da Trilha da Trilha com a música do REM. Tinha pensando no post ontem, mas ainda não tinha devido a música. Aí, chateado com aquela chuvarada que tinha avacalhado com meus planos, optei por aquela. Pura mentira. O dia foi ótimo.
Começou com uma noite super bem dormida no Top of Georgia Hostel. No café da manhã (sucrilhos e café) Bob, também conhecido com Sir Packs-a-Lot (olha que Trail Name massa) deu uma mini-palestra do que está por vir. Dan me deu uma maçã e uma laranja, que comi esperando a chuva passar. E tirando uma subida cabulosa, o passeio foi bem agradável.
O cara que eu tinha cruzado mais cedo eu venho encontrando desde o segundo dia. Magro, alto, branquelo, fica de fone todo o tempo e é menos de conversa do que eu. Usa sempre calças verdes, uma camisa de manga comprida branca, uma mochila branca e no dia que o vi pela primeira vez, meio perdido sem saber se estava na trilha certa ou não, tinha uma bandana branca cobrindo o rosto e luvas. Meio assustador. Desde então eu o chamo de White Walker, como os vivos-mortos de Game of Thrones. Quando ele passa por mim penso “ó, o White Walker passou. Achei que tivesse bem na frente”. E quando vejo de longe a mochila branca na minha frente penso “a lá o White Walker. Tá mais lento hoje…” Nesses três dias a gente tinha trocado uma palavra ou outra, mas quando passei por ele hoje depois da chuva perguntei seu nome. Brooks. E contei que o venho chamando de White Walker. Talvez tenha dado o Trail Name do cara. Mas parece que ele não gostou muito não…
Trail Names são nomes que os caminhantes adotam na trilha. Não é obrigatório, mas é uma tradição. O caminhante pode se auto-batizar ou pode ser batizado por outro. Na maioria das vezes o apelido vem da primeira besteira que a pessoa faz na trilha. Ou de uma característica: se é muito lento acaba virando Turtle (Tartaruga). Se carrega uma mochila pesada vira Sherpa. Sir Packs-a-Lot fez um excelente trocadilho com o rapper Sir Mix-a-Lot. E se o sujeito se propõe a caminhar como uma camisa de manga longa branca no calor que faz durante o dia, desculpa, mas só pode ser O White Walker….
José Gustavo
Oi Jeff bacana o relato da chuvarada na divisa e o White Walker. E tu algum apelido em vista?
Abraços Gus
Jeff Santos
Ainda não Gus…
eduschubert
Salve Jeff
Acompanhando com muito interesse sua caminhada. Pretendo fazê-la em futuro próximo. Semana que vem começo o Caminho de Santiago. Boa sorte aí, aproveite cada milha.
Jeff Santos
Bom Caminho, Edu!