Dia 75, 28/06: 501 Shelter (1193.7) a PA 183 (1203.0)
Distância do dia: 9.3 milhas | 14,96 km
Distância total: 1203.0 + 8.8 milhas | 1950,20 km
Distância que falta: 986.8 milhas | 1588,10 km
O fato de ser estrangeiro sempre levanta surpresa e algumas questões nos gringos. A primeira pergunta é quase sempre “como você ficou sabendo da trilha”. Minha resposta é que quando mudei pra Austrália comprei o livro do Bill Bryson sobre o país, gostei, procurei outros livros dele e achei o Walk in the Woods. Quando comecei a fazer longas caminhadas achei que é a AT seria uma boa e aqui estou. A segunda pergunta é “o que mais te surpreendeu até agora”. E a resposta é a generosidade do povo. Essa coisa de Trail Magic é fascinante e não me canso de surpreender. Sejam os anônimos que deixam uma garrafa de água, um fardo de papel higiênico ou um cooler com refrigerantes na beira da estrada, sejam os anjos que fazem por você algo muito maior. Mais que te alimentar e de dar carona, ele te dão esperança e confiança. Esperança no ser humano. Você volta a acreditar nas pessoas. E confiança pra seguir e terminar essa jornada.
Eu tive a sorte de encontrar alguns anjos que se tornaram amigos. O Dan indo me encontrar na trilha pra ter certeza que chegaria ao hostel (o primeiro que iria ficar) a tempo de pegar a carona até o supermercado é um momento super marcante. O Fábio fazendo o mesmo, me encontrando na trilha, me dando carona, passando o dia comigo foi incrível. A Ingrid, o Yoav e a Laura, meus primeiros anjos, me dando casa na minha chegada e suporte durante toda a trilha é algo que não sei como agradecer. A Trudy e o Eric me levando pra casa, fazendo churrasco, experimentando cervejas locais, me dando uma goiabada, aquilo me emocionou imensamente. E hoje o Mark…
Conheci o Marcão online. Ele me viu em algum site ou grupo e me adicionou no Facebook. É casado com uma brasileira, a Cristina. Mais que isso: ela é de BH, e o Mark já foi pra lá uma dúzia de vezes. Por coincidência ele tem um casa perto de onde a AT corta uma estrada e ontem a gente se encontrou. O dia foi leve e antes de meio dia mandei uma mensagem pra ele, que foi me pegar. Fez linguiça (não era sausage: era linguiça mesmo…) e pasta no almoço – com guaraná! – e preparou uma picanha e mandioca – mandioca! – no jantar. Super conversa boa, cheio de histórias, uma atenção que eu até ficava meio sem jeito.
Entre os melhores dias de trilha estão os dias que encontrei esses novos amigos. Gente que deu um colorido e um sabor todo especial à caminhada.
A trilha, eu disse, foi tranquila. Quase chegando na estrada onde iria encontrar o Mark passei pelo Voyager. Bermuda cáqui, camisa também, aberta no peito, cabelão branco encaracolado, sorriso divertido. Ia passando por ele, cumprimentei, e notei os patchs da AT, PCT e CDT, as três grandes trilhas americanas, na mochila dele. “Estou vendo os patchs na mochila. Você já fez as outras?”, perguntei. “Já. Duas vezes. Na verdade estou completando a minha segunda Tríplice Coroa com essa. Tenho mais de 15 mil milhas de caminhada”, ele respondeu, sempre com um riso depois de cada frase. Fomos juntos até a estrada, tiramos fotos um do outro, ele seguiu e eu fiquei. Pra encontrar um novo amigo. Valeu Marcão. Nós encontramos em breve pra uma cerveja em Beagá (ninguém chama de Belo…)
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