Istanbul – as principais atrações

São cinco da manhã em Istanbul, onze da noite no Brasil. Cansei de travar uma briga injusta com meu jet leg e subi para o restaurante do hotel. Ainda é noite, as luzes das mesquitas ainda estão acessas, mas daqui a pouco menos de uma hora o sol vai nascer. Quando vi ele se pondo ontem, já quase nove da noite, calculei que iria nascer em algum lugar entre a Mesquita Azul e Aya Sofia, minhas duas vizinhas famosas aqui no hotel. Quando, às 5h57 ele aparece, fico inquieto: não sei se olho diretamente ou pelo visor da câmera. Ao mesmo tempo um misto de emoção e cansaço surgem no meu peito e lágrimas começam a cair. Estou sozinho no terraço e deixo o sentimento tomar conta.

Aya Sofia
O nascer do Sol em Istanbul: é ou não é de chorar?

O sol aparece bem atrás de Aya Sofia, o maior e mais bonito dos dois prédios. Ontem, depois das 24 horas de viagem, cheguei no hotel, tomei um banho e fui direto visita-la. O prédio, que já foi igreja católica e mesquita, é hoje um museu. A História está presente em cada uma das imensas pedras de granito do lugar. O prédio atual é o terceiro erguido no mesmo lugar e data de século VI. Mais impressionante que sua imensa, gigantesca, inacreditável cúpula sem uma única pilastra sequer – a Mesquita Azul, também aqui perto, é pelo menos 1000 anos mais nova, menor e mesmo assim é sustentada por quatro – é imaginar a construção dessa gigante em apenas 5 anos em uma época em que Brasil nem do mapa constava.

Aya Sofia
Aya Sofia por dentro: mais de mil anos de história.

A Mesquita Azul, minha outra vizinha, fica a menos de 50 metros do hotel. Ao contrário de Aya Sofia, que cobra 20 liras de ingresso, a entrada aqui é livre, desde que respeitadas as normas religiosas – pés descalços e mulheres com os ombros cobertos, basicamente. Dentro as pessoas aguardavam o início do culto sentadas no chão, indifentes às dezenas de turistas que entravam e saíam. O primeiro contato digamos, íntimos com minhas vizinhas foi rápido e prazeroso: o cansaço da viagem começa a tomar conta – não durmi um minuto sequer voo – e naquele momento tudo o que queria era algumas horas de sono.

IMG_3798Combinei com minha companheira de viagem de tomar café logo cedo. Assim teríamos tempo pra visitar o Gran Bazar, que fica a 15 minutos de caminhada do Hotel, antes dos trabalhos começarem. Sabri, nosso parceiro para a realização do evento iria nos encontrar apenas as 10h, assim poderíamos passar pouco mais de uma hora perdidos em meio as mais de 5 mil lojas do bazar. Encontramos as portas principais ainda fechadas, mas com uma volta no quarteirão achamos uma secundária, usada sobretudo pelos funcionários do lugar e pelos moradores locais. Apesar de curioso, o bazar é um pouco frustante. As centenas de lojas se dividem entre as de pashminas, de bugingangas, de bijouterias, de tapetes, de couro e objetos de decoração, todas muito parecidas entre si.

Até a forma de abordagem dos vendedores é parecida: primeiro chutam a sua nacionalidade com uma margem de acerto impressionante (nem eu nem minha companheira de viagem somos os típicos brasileiros. Mesmo no Brasil, na praia, eu me passo facilmente por gringo. Minha companheira, loira e de pele muito clara, poderia ser facilmente trocada por holandesa ou americana): diria que das 100 abordagem que sofremos pelos menos umas 70 foram com “brasilero? Botarde! Eo sô brasilero tambiém!”. Depois disso querem te mostrar toda a loja. Os preços começam duas vezes ou mais o valor pelo qual pode ser vendido mas pode terminar sendo seu pelo preço que você achar que vale. Exemplo? Duas pashminas que eram oferecidas a 50 e 90 liras (o mesmo em reais, aproximadamente) no final custaram 50. As duas.

Mercado das Especiarias
Mercado das Especiarias: se você gosta de cozinhar, aqui é o paraíso

Mas se você mostrar real interesse em alguma coisa, quando se dá conta já está tomando um chá com o vendedor. Quando a venda chega neste ponto, meu amigo, você é capaz de comprar a tenda inteira. Aconteceu comigo, no Mercado das Especiarias, onde conseguimos passar no final do dia.

Um parêntesis pra contar sobre o trabalho por aqui. Ele consiste, basicamente, em visitar locais possíveis para a realização do evento, em outubro. Isso quer dizer que passo o dia visitando hotéis, centro de convenções e espaços onde caibam os 600 convidados que estarão na cidade. Podem não ser muitos, mas aqui em Istanbul tive que fazer uma pré-seleção e limitar estes locais a uma dúzia. Os dispensados logo de cara, sem a visita, foram aqueles que não tinham a data disponível ou que ficavam longe de onde os convidados estarão hospedados. E mesmo durante a visita alguns lugares são eliminados rapidamente, seja por não permitir o consumo de bebidas alcóolicas, seja por não serem convenientes para o evento. Binbirdirek Cistern, por exemplo, é maravilhoso: tem 168o anos de idade. Mas quase o mesmo tanto de colunasll… As visitas técnicas são ótimas para conhecer a cidade por um outro ponto de vista. Mesmo Fernando, nosso guia, não conhecia algum dos lugares que visitamos.

Cisterns
240 colunas nas antigas cisternas de Istanbul

De volta ao Mercado das Especiarias. Passamos por lá no final do dia e conseguimos pegar as lojas ainda abertas. Em forma de L, menor e mais simpático que o Gran Bazar, aqui também é possível encontrar as mesmas pashminas e bugingangas do outro, mas o destaque são os temperos. E foi por isso que vim. Mas quando me vi tomando um chá de romã que simplesmente não tem explicação, o suor começou a escorrer pelo meu rosto e eu pedi ao vendedor para ver os chás, além de todos os temperos que eu já havia selecionado, senti que estava indo por um caminho sem volta. E quando, para fechar o pacote, levei um graminha do açafrão mais caro do lugar, vi que tinha passado do limite. Mas como resistir àquela infinidade de aromas, cores, sabores, misturas? Como não comprar anis estrelado, cardamomo, chá de jasmin ou aquele chá de romã que até agora tenho na lembrança? Não tem jeito. Mas talvez comprar como um pouco menos, e não os dois quilos (e 350 liras) de condimentos…

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