A trilha da trilha: Albert Hammond – It Never Rains in Southern California
Planejei a PCT por um bom tempo. Nada detalhado demais, mas tinha uma ideia de quanto eu iria andar a cada dia, perto de onde iria passar a noite, onde iria comprar os suprimentos pro próximo trecho… e com dois dias de trilha – dois dias! – o planejamento foi por água abaixo.
Não estou falando no sentido figurado: chuva, no sul da Califórnia, era algo que eu não poderia prever. É uma região seca, deserto, onde chuva é raro. Olha o diz o site weatherspark.com: “um dia chuvoso pode representar apenas 0.1 centímetros de precipitação. A temporada de chuva vai de 19 de novembro a 9 de abril”. Ainda assim a chuva começou pouco depois de eu sair do acampamento, novamente às 8 da manhã e durou o dia todo.
Esperei Scout no camping pra pegar com ele a blusa que eu tinha esquecido. Ele chegou às 8 em ponto, entregou a blusa, tiramos uma foto e ele saiu para buscar mais caminhantes no aeroporto. Eu estava acordado desde às 4:30, num misto de alegria e ansiedade por estar lá. Tyler já havia partido quando saí da barraca.
O plano do dia era fazer mais que ontem, ou pelo menos o mesmo, já que o mapa mostrava uma elevação gradual durante todo o dia. O objetivo era algo perto de 40 km, o que me obrigaria a passar pela cidade de Mount Laguna no meio da tarde para comprar alimento pros próximos dias. Mas a chuva, o vento e o frio me obrigaram a parar antes, depois de 25 km de caminhada. Ainda não era 2 da tarde quando decidi para no primeiro lugar que desse para montar a barraca. Com o dia frio eu não tinha tomado nada dos 2 litros de água que estava levando e era seria suficiente para a noite, o jantar e a parte da manhã.
Eu estava desesperado para encontrar um lugar. Qualquer lugar. Mas uma placa na beira da trilha me alertou que era melhor tomar cuidado: “Perigo de segurança – artefatos militares não detonados nesta área – permaneça na trilha”, ela dizia. Achei prudente não arriscar.
Encontrei um lugar plano, em meio a arbustos que bloqueiam boa parte do vento a alguns minutos dali. Tudo estava molhado e eu tremia de frio. Batia os dentes tentando montar a barraca na chuva que ainda caia. Com ela erguida, entrei, tirei as roupas molhadas e entrei no saco de dormir para me aquecer. Foi aí que a chuva estiou e o sol apareceu tímido pela primeira vez no dia.
Mas não durou muito: alguns minutos depois e a chuva volta a cair. O que me obrigou a cozinhar meu jantar dentro da barraca. O relógio marcava 3 da tarde.
Este seria um ótimo dia para desistir. Fico pensando se alguma das pessoas que começou comigo jogaram a toalha hoje. Fico pensando em quem começou hoje, nesse dia atípico na região. O clima é nosso maior inimigo.
Os planos diários mudaram mas a meta continua a mesma: terminar o deserto por volta do dia 20 de junho (35 dias, numa média de 32 km por dia). Mais que isso seria especulação. Estou 7 km atrasado. Espero compensar amanhã.
Ana Asseituno
Adoro seus relatos! Não vejo a hora que eles virem um livro! 😉
Jeff Santos
Valeu Ana! Estou trabalhando nisso!
otaviofsousa
Quando vi que tinha post novo aproveitei o friozin que tá aqui no sul de MG para fazer um chá e desfrutar do relato! Muito obrigado Jeff e boa viagem
Jeff Santos
Valeu Otávio. Vou manter os posts diários sempre que houver conexão!
Cintia Ago
Bacana Jeff!!! Ótimo caminho pra vc!!!
Aguardo feliz seus relatos de trilha!