Dia 126 – Monte Whitney, California
Acabei a trilha oficialmente ontem, mas tinha essa pendência comigo mesmo: subir o Monte Whitney, que não é parte oficial da PCT, e ter lá no topo meu gran finale. Portanto, esse é o último post sobre a trilha. Ainda vou caminhar mais um pouco: tenho cem quilômetros até voltar a Kennedy Meadows, mas já fiz essa parte e já contei sobre ela aqui. Depois eu faço turismo: passeio pela Califórnia, por Portland, Oregon e Vancouver, Canadá.
Eu saí do camping na base do Whitney com uma missão (além de chegar ao topo, claro): encontrar o local exato de onde escorreguei e a pedra onde parei. Como não tem mais nenhuma neve, tudo é pedra. E todas parecidas. Eu ia me guiando pela altura que eu estava em relação aos lagos, em especial ao Guitar Lake, e a montanha a minha frente.
“Será essa? Não, tá muito baixo. Aquela? Não, pequena demais…” e foi assim, reparando e fotografando, até chegar um momento onde eu tinha certeza que já tinha passado – e não tinha encontrado.
Sem neve, a trilha é uma subida puxada, mas nada de diferente dos outros passes da PCT. Quando terminaram os switchbacks e cheguei à crista tive certeza que ter parado onde parei foi a melhor decisão. Eu nunca andaria ali com neve…
A trilha estava cheia – põe aí umas 50 pessoas subindo ou descendo. No topo encontrei com gente que me reconheceu de semanas atrás, logo que voltei à Califórnia. E nem era gente que estava fazendo trilha. Pura coincidência.
Infelizmente não pude ter aquilo que tinha previsto na minha chegada ao cume: não fui à cidade comprar champagne e caviar. Me contive com uma tortilha com atum, o mesmo o que venho comendo de almoço há alguns dias.
No retorno fui de novo olhando as pedras, até encontrar a que eu queria. Vi que parei muito antes da metade do caminho. E que ainda assim a queda teria sido provavelmente fatal. Fiquei ali olhando a pedra no meio da montanha e reparei que ela era a única com uma planta. Foi ali que eu quase morri. E era ali o único lugar que havia vida.
Fim.
Alexander Fajardo
Simplesmente fantástico sua narrativa. há uns anos eu havia lido seu Caminho da fé. Agora pesquisando novamente nesta semana, tive overdose de Jeff. Ouvi em dois dias os 6 episódios no Extremo sobre Appalachian Trail.
Depois vi acerca da PCT, ouvi apenas o primeiro episódio e lá e descobri que teria os textos diários aqui no Longa Distância. Vim aqui ler primeiro, li todos os dias 126 dias desde ontem. Agora voltarei no Extremos ouvir os 5 episódios restantes.
Seu texto é instigante, sua resiliência aliada com a precaução foi demais na PCT. Inspiração!
Parabéns pelo caminho e grato por proporcionar esse material que torço para que vire um livro.
abraços
jeff.santos@gmail.com
Po, Alexander, Valeu demais pelos comentarios! Fico feliz que tenha gostado. Voce pode acompanhar também pelas redes sociais, Instagram e Facebook. Tambem espero que essas caminhadas virem livro um dia… Abraco!