A trilha da trilha: Dirty Gold – California Sunrise
A chuva que a gente temia pra hoje não veio. O dia foi lindo: frio, mas de céu aberto quase o todo tempo. Acordei às 4, empacotei minha trilha e sai do acampamento antes de todos. O sol ainda não tinha nascido, eu ia com a lanterna na cabeça acessa, mas a medida que ia caminhando duas coisas iam ficando pra trás: a noite e a neve. Cada passo que dava estava mais baixo. O dia foi todo assim: ladeira abaixo.
O sol foi surgir por volta das 5:30. Parei pra ver o espetáculo: o céu escuro sendo clareado por tons de vermelho e laranja. Fazia tempo que não via um nascer do sol tão poderoso.
A mais de 2 mil metros de altitude, tinha a cidade lá embaixo coberta por nuvens. Acima de mim o céu continuava azul. Mas não demorou a névoa tomar conta de onde eu estava – ou eu descer de encontro a ela. Saí do acampamento, frio e com neve, a 2360 metros de altitude às cinco da manhã e cheguei à rodovia Interestadual 10, que leva à Cabazon, a 400 metros do nível do mar, sete horas e 30 quilômetros depois.
Nas conversas noite passada o plano era ficar ali, debaixo da ponte, até a chuva passar. Mas a chuva não vinha e quando cheguei os meninos não estavam. Mandei uma mensagem pro Tyler. “Viemos a Cabazon comer. Quer vir ou quer que leva alguma coisa pra você?”, ele respondeu.
Não queria ir: queria me abrigar antes da chuva chegar. Continuei andando e enfrentando, agora, o vento: a região é famosa por isso e as fazendas de energia éolica são parte da paisagem. Tentei acampar em um local, não consegui. Achei um outro e mandei outra mensagem: “estou na milha 211.8”.
Pensei que não iriam chegar. Preparei minha barraca, cozinhei dois pacotes de miojo, entrei no saco de dormir, começava a pensar em dormir (eram cinco da tarde) quando escuto o sotaque do Ed: “burrito delivery!” Tyler me entrega dois burritos e uma cerveja. “Que bom que a gente te encontrou”, ele disse. “Mas a gente não vai ficar aqui não. Vamos caminhar até a sede da wind farm”.
Eu não. Lá, dizem, é barulhento por causa das turbinas. Eu vou ficar aqui sozinho, comendo burritos e tomando cerveja até o sono chegar. E vou dormir tranquilo. Se a ventania deixar.
Júlio Santos
Olá, Jefinho! Admiração total por sua dedicação!! Abração!!!