Japão – Vistos (com direito a um encontro inesperado)

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img_7814A maioria das pessoas acha o processo de tirar vistos de viagem um saco. Tão chato, mas tão chato, que estão dispostos a pagar uma pequena fortuna para que alguém faça isso pra eles. Não é o meu caso. Não que sinta prazer em separar documentos, autenticar cópias, reconhecer assinaturas, imprimir extratos, buscar o comprovante do imposto de renda e aguardar na fila. Mas não acho que o que os despachantes cobram valha o preço.

Veja, por exemplo, a Mundial Vistos, aqui de Belo Horizonte. Já tinha tido problemas com eles quando fui tirar o visto pra China. Por telefone me deram um prazo, quando fui levar os documentos para dar entrada no visto, o prazo era outro. Acabei resolvendo por conta própria (como também fiz em todos os outros vistos, seja Estados Unidos ou Cuba).

No caso do Japão eu já havia checado os documentos necessários no site do Consulado do Rio (que cuida dos vistos dos mineiros), no site do Consulado em São Paulo e por telefone no Consulado Honorário do Japão em Belo Horizonte (que funciona mais como um adido cultural). Sabia o que precisava e sabia também da taxa que precisava pagar: R$79,00 para o visto de uma entrada. Quando liguei na Mundial a conversa foi mais ou menos assim:

– Olá, eu queria informações sobre o visto pro Japão.

– Sim. O senhor está indo quando?

– Novembro, visto de turismo, uma entrada, duas pessoas.

– Claro, senhor. O preço é R$470 reais. Se quiser taxa de urgência…

– Oi? Quatrocentos e setenta reais?

– Sim, senhor. Esse valor já inclui todas as taxas para o visto. O senhor vai pra China quando mesmo?

Desliguei o telefone. Veja: não justifica o custo extra de R$391 reais por pessoa para cada visto. Nem pro Japão, nem pra China, nem pra nenhum outro lugar.

Peguei um ônibus às seis da manhã na Rodoviária de BH, cheguei ao Rio pouco antes das duas. No Terminal Novo Rio fui pegar um taxi:

– Tô indo pro Flamengo.

– Cinquenta reais.

– Cê tá louco? Cinquenta pratas pro Flamengo?

– É tabelado…

Sai da rodoviária, andei dois quarteirões, parei na porta do Ibis Porto Atlântico e pedi um Uber (o app é bloqueado na rodoviária de lá). Até a porta do prédio do consulado japonês deu R$16.

Subi até o décimo andar, me identifiquei com a recepcionista, passei pelo detector de metais e fui dar entrada no pedido de visto. Duas pessoas preenchiam o formulário na pequena mesa que tinha ali e não tinham ninguém esperando. Dei um konichiwa pra recepcionista – mentira, falei boa tarde mesmo – e entrei o envelope. Eu tinha levado tudo que havia na lista que tinha visto a) na página do consulado japonês do Rio b) na página do consulado japonês de São Paulo e c) nas informações que o pessoal da Mundial havia me passado por email. Tudo combinado, já que em um pedia cópia autenticada da identidade, noutro não pedia, mas pedia o imposto de renda completo do último ano, no terceiro não pedia o imposto de renda, mas pedia os três últimos extratos bancários… Levei uma papelada. A moça ia passando e me entregado: esse não precisa, esse também não, nem esse…

Em menos de dois minutos eu estava com o recibo pra pegar os passaportes com os vistos, dali a dois dias. No geral o que foi realmente preciso foi o seguinte:

  1. formulário de pedido de visto, que pode ser encontrado aqui
  2. formulário com o cronograma da viagem – que eu fiz detalhadamente, dia a dia, mas pelo visto pode ser mais simples – e pode ser encontrado aqui
  3. passaporte válido por seis meses após a data de retorno
  4. uma foto 3×4 recente
  5. print da reserva da passagem de ida e volta
  6. um comprovante de renda – que de todos que levei (imposto de renda, três últimos extratos) ela ficou apenas com uma página que mostrava o meu saldo atual naquela data

Nada de imposto de renda, nem de extratos, nem de cópia autenticada de carteira de identidade…

Como dei entrada também no pedido da Alê, levei uma página escrita por ela me autorizando a dar entrada e retirar o visto, assinada e autenticada em cartório, por precaução. Essa também foi necessário.

E também contrariando tudo o que já havia lido, a retirada dos passaportes não precisa ser feita pela mesma pessoa que deu entrada. Qualquer pessoa com os comprovantes pode retirar. O pagamento do visto – R$79,00 por pessoa – é feito na retirada.

Por causa disso liguei pro Marcelo e pedi pra ele pegar os documentos e me mandar por correio. As 17h já estava na rodoviária pra pegar o ônibus das 18h de volta pra BH. No final das contas, vistos, mais passagens, mais Ubers, mais alimentação, tudo me custou um dia e menos de R$400 reais. Lembrando: a Mundial queria R$470 por cada visto…

E aí começa a segunda parte da história…

Estou eu na poltrona 5, fones de ouvidos a postos, quando me entra uma garota desorientada no ônibus. Larga a mochila e a sacola de supermercado na poltrona ao lado da minha e sai do busão, já na hora de partir. Volta uns dois minutos depois com um tênis e um sapato em cada mão – não o par, um de cada. Senta esbaforida, ajeita a mochila, coloca os calçados na sacola meio furada, pega um celular de uma marca que nunca vi. “Gringa”, pensei.

– Sua primeira vez no Brasil?, perguntei em inglês.

Era. Tinha vindo só com passagem de vinda, sem data pra voltar. Havia chegado há três semanas em São Paulo, tinha ido pro Rio, passado por Parati e Trindade e vinha pra BH pra daqui seguir pra Souza, perto de Rio Manso, onde iria trabalhar de voluntária numa fazenda de permacultura. Já havia viajado pela India e Ásia, mas os pais não tinham ficado tão preocupados como quando disse que viria pra América do Sul. A ideia era ir descendo, passar uns dias em Florianópolis, depois Rio Grande do Sul, Buenos Aires, talvez Patagônia, quem sabe atravesso e vou ao Chile, mas tenho que voltar quando meu pai precisar de alguém pra trabalhar com ele, ela dizia.

– E em BH, você vai ficar onde?, perguntei. Ela não sabia: já não tinha internet no chip que havia comprado em São Paulo, não conhecia ninguém na cidade, sem crédito também não conhecia chamar nem o Uber nem o BlahBlahCar que vinha usando até então. Pra completar, chegaríamos na cidade uma da manhã…

Na rodoviária daqui mais um pepino: na correria pra ir buscar os sapatos que havia perdido no terminal do Rio – por isso o entra e sai correndo do ônibus – ela perdeu o ticket da mochila que ia no bagageiro e o motorista, por nada desse mundo, queria entregar. Expliquei pro cara a situação, ele entregou a bagagem e ofereci pra ela uma carona, uma cama, um banho, café da manhã e um transfer no dia seguinte de volta pro local onde iria pegar o ônibus pra Rio Manso.

– Sério? Posso ficar na sua casa?

Era tudo o que eu queria que alguém fizesse por mim numa situação daquelas. Claro que poderia. Claro que Alê entenderia.

Quando acordou, Babou tomou um banho e, segunda ela, “o melhor café que tomei em toda viagem. Só pra provar que mineiro é mesmo tudo isso que todo mundo fala”. img_7764

 

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