Dia 28, 12/05: Campsite norte de Wilburn Dam Rd (433.0) a Campsite sul de TN 91 (447.0)
Distância do dia: 14 milhas | 22,53 kmDistância total: 455.8 milhas | 733,53 km
A ideia hoje era andar bastante e chegar o mais próximo possível da divisa com a Virgínia e consequentemente de Damascus. Mas quem disse que na trilha você tem controle sobre alguma coisa? São 4 da tarde e estou na minha barraca…
A saga começou já na madrugada. Ou melhor: na noite anterior. Fui dormir no que a gente chama de “hiker’s midnight”: umas nova da noite. Na verdade escureceu eu já tô dormindo, e esses dias tem escurecido por antes das nove. O dia tava bonito, sem cara de chuva. Eu tinha achado um ponto do jeito que eu gosto: no topo de uma montanha, com lugar só pra uma tenda, tranquilo. Só não tinha água perto, mas eu tinha me precavido e tinha um litro, suficiente pra fazer o jantar e beber na noite. Mas nem jantar fiz: ainda satisfeito com o sanduíche e o sorvete, comi umas frutas secas, um chocolate e foi isso. Nove horas, cama.
Acordei com a barraca balançando mais que o normal. E luzes. O agito era porque dois dos fincos tinham se soltado e vento fazia o plástico da barraca toda tremer. As luzes eram relâmpagos. Os trovões que vinham na sequência vinham muito rápido, o que mostrava que os raios caiam não longe daqui. Certifiquei que não estava entrando água, coloquei a mochila onde balançava mais pra dar uma firmeza e voltei a dormir.
Quando acordei estava com neblina, mas não parecia que ia chover. Quente, não fiquei com o casaco nem por dez minutos. Caminhei ciente que iria andar pelo menos umas 20 milhas. Mas foi chegando no meio da tarde e o tempo foi fechando. Ouvia os trovões, tudo que preto a oeste, tudo claro no lado leste. A chance da chuva chegar é a mesma do tempo clarear, pensei, mas se aparecer um lugar pra acampar eu paro. E nada de aparecer um lugar.
E a chuva foi chegando devagar, e eu andando mais rápido, e nada de um lugar. Quando o lugar aparecer a chuva chegou junto. Daquelas: um dilúvio, meio mundo desabando, eu ensopado e montando a barraca. A Big Agnes, essa que tô usando, permite que você monte primeiro a capa de chuva e depois o compartimento da barraca em si. Mas quem disse que deu tempo de pensar nisso?
Conclusão é que quando eu consegui entrar na barraca eu usava meu copo pra tirar a água de dentro dela. Tipo barco à deriva. Tirava um copo, entrava dois, porque a anta aqui tinha esquecido de prender um dos pontos da barraca. Para, respira, se organiza e vai: saí, prendi o que faltava, tirei o que deu de água com o copo, peguei uma bandana que achei dias atras e venho trazendo comigo e fui secando com ela a barraca. Tudo seco, mochila pra fora, troca de roupa… e a chuva para. Na mesma hora.
No final, tudo certo. Minhas roupas de caminhar molhadas, mas o mais importante, saco de dormir e roupas limpas, secas. Talvez seja a vez que melhor montei a barraca, apesar da confusão. Agora está seca, eu estou seco, mas resolvi ficar por aqui. Amanhã vão ser umas 23 milhas até Damascus, mas se o tempo ajudar vai ser tranquilo. Porque hoje não saio mais daqui não…
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