Dia 78, 01/07: zero em Palmerton, PA
Dia 79, 02/07: Palmerton, PA (1257.9) a Campsite (1283.8)
Distância do dia: 25.9 milhas | 41,68 km
Distância total: 1283.8 + 8.8 milhas | 2080,23 km
Distância que falta: 906 milhas | 1458,06 km
Meus zeros estão sendo mais exaustivos que os dias de caminhada. Ontem, por exemplo, passei mais de uma hora no telefone com meu banco, o Itaú. A história é absurda. Kafkaniana.
Desde o início que meu cartão não está funcionando direito. Consigo comprar online e consigo (ou conseguia) tirar dinheiro do cartão de crédito (não da minha conta) de um caixa eletrônico de um banco. Não é o ideal, mas beleza. Estava me virando desse jeito.
Ontem em Palmerton paguei – no dinheiro claro – a segunda noite na garagem e o meu café da manhã e vi que tinha 100 dólares. Achei melhor sacar um pouco mais. Passei no banco, nada. Em outro, nada. Tinha deixado o celular na garagem e quando volto tinha um recado da Ale dizendo que o banco tinha me ligado e que era pra eu ligar pra um número x. “Ok”, pensei, “vão confirmar e liberar o saque”. Tento ligar pro número, diz que não existe. Ligo no Brasil Direto da Embratel, passo o número pra telefonista, e ela: “Senhor, esse número é do Itaú, né? O número deles mudou. Vou te conectar com outro”. Ou seja: a própria funcionária do Itaú passou o número errado para a Ale…
Atende a primeira pessoa. Digo o tá acontecendo. Ela pede pra eu digitar o número do meu cartão e a senha. Digito. Atende outra pessoa. Falo de novo. Ela confirma que o cartão tinha sido bloqueado por causa da tentativa de saque (sendo que eu tinha liberado o cartão antes de sair do Brasil, já tinha sacado antes, já tinha sido bloqueado, já tinha conversado com outra pessoa que tinha liberado de novo, já tinha sacado mais uma vez… enfim…). Confirma as três vezes que tentei sacar, eu digo que é isso mesmo. Ela me passa pra setor de segurança do banco. A pessoa me faz as perguntas mais pé sem cabeça que já vi (“desde quando o senhor trabalha na Distribuidora Triângulo Ltda?” Oi??). Respondo as perguntas. Ela diz então que o banco vai entrar em contato comigo…
Me ligam, pedem pra eu ligar, eu ligo e eles dizem, depois de 40 minutos, que vão me ligar… Não ligam, claro. Eu ligo de volta.
Passo pelos mesmos setores até cair, de novo, na segurança. De uso internacional de um cartão de crédito. “Senhor, nós tentamos entrar em contato com o senhor mas seu celular está desligado”. Claro. Eu estou no exterior. Eu passei o número do meu celular daqui pra outra atendente. “Nós não podemos ligar para números do exterior, senhor. O senhor deveria fazer um roaming internacional”. E você deveria parar de falar bobagem. Pra que eu vou fazer um roaming internacional e pagar 50 reais por dia se posso ter um telefone daqui e pagar isso por mês? “Infelizmente não podemos fazer nada senhor. Só podemos confirmar que o senhor é o senhor e liberar o cartão se ligarmos pro seu celular…”
Não é um problema só do Brasil não. Deixa eu contar uma outra coisa. Outro dia apareceu uma promoção na B&H (lembra dessa loja? Era o paraíso dos eletrônicos no final dos 90…) e resolvi comprar uma caixa de som. Mandei entregar na minha base, a casa da Ingrid, em Jacksonville. Comprei online, pelo site. Paguei com o cartão, claro. Dois dias depois recebo um e-mail do setor de verificação deles perguntando se já tinha comprado lá antes. Já. Há 15 anos. “Qual o número do pedido?” Não faço ideia. “Qual e-mail você utilizou?” Nem sei se tinha email daquela vez. “Você lembra tem uma cópia da nota fiscal?” Olha, é o seguinte: o pedido taí, o número do cartão e o endereço de entrega também. Se quiser vender, beleza. Se não quiser cancele o pedido.
No dia seguinte recebo um pedido de amizade no Facebook de alguém que não conheço e não tenho amigos em comum. Pouco depois um e-mail do setor de verificação da loja. “Te adicionei no Facebook. Aceite minha amizade e me envie por lá o número do seu pedido na B&H pra eu confirmar que você é você”. Fiz. A caixa chegou na casa da Ingrid…
As pessoas falam que a trilha muda você, mas não acho que mudem TANTO ASSIM. Itaú, eu sou eu. E meu dinheiro tá acabando. Tenho um plano B, claro. Sempre tenho. Mas eu quero poder usar o meu dinheiro. Só isso…
Enfim. Passei ontem o dia de bobeira na garagem, tentando atualizar o blog e bebendo cerveja (que tinha comprado antes de saber que minha grana estava confiscada, claro…)
Hoje peguei uma carona até o local onde tinha parado no dia anterior. Minha preocupação era a água: era um trecho longo, de 25 km, sem água pelo caminho. Carreguei os três litros que dava conta. A coisa da água não me fez prestar atenção na subida que teria pela frente…
É normal: toda descida pra cidade tem uma subida na sequência. Mas essa de Palmerton era sem noção. Um paredão de pedras amontoadas, um troço perigoso e difícil, que exigiu momentos de escalada, usando as duas mãos. Lembra que contei do Dragon Tooth? Tipo aqui. Só que pior.
O primeiro litro d’água acabou na primeira milha. Eu tinha planejado mais dezenove… Por sorte no primeiro cruzamento com estrada um Trail Angel tinha deixado um garrafão de água. Enchi e continuei. Quando cruzei com um pessoal indo pro sul eles fizeram as palavras mágicas: “tem Trail Magic daqui umas quatro milhas”. Panqueca, refrigerante, mais água…
Com isso nem parei onde tinha planejado. Segui mais um pouco pra amanhã antes do almoço estar em uma outra cidade e ligar pro meu gerente. O setor de segurança do banco diz que só ele consegue liberar o meu cartão… Engraçado que da outra vez que o cartão parou de funcionar eu liguei pro gerente e ele disse que não era um problema dele,as do setor de segurança do banco… 🤔
luciana*
Sinto que você esteja passando por tanto estresse com o Itaú. É um banco que funciona no Brasil, mas fora daqui é um pesadelo. Já me aconteceu algumas vezes de pedir pro cartão ser desbloqueada e de repente ficar sem verba na gringa porque eles simplesmente ignoram seu pedido. Uma pena.