Dia 53, 06/06: Johns Holloway Shelter (786.6) a Hog Camp Gap (813.0)
Distância do dia: 26.4 milhas | 42,48 km
Distância total: 821.8 milhas | 1322,55 km
Miss Gilbert pediu para que seus alunos buscassem lenha para se preparar para a semana. Já era dia 9 de novembro e o frio estava chegando. O ano era 1891. Os menores iriam catar gravetos no bosque ao lado da escola. Os dois mais velhos, os irmãos Harry e Joseph Powell, iriam buscar lenha maior na floresta. O caçula dos Powell, o pequeno Ottie, de quatro anos,deixou de lado os gravetos e foi em busca de lenha com os irmãos. Afinal, nessa idade ajudar os mais velhos é pura diversão.
Ottie achou um tronco de bom tamanho e tentou carrega-lo sozinho. Sem chances. Foi chamar os irmãos. Andou de um lado e de outro e não encontrou o caminho de volta à escola. Estava perdido. Por algumas horas rondou sem destino. Viu então uma montanha e pensou que se chegasse ao topo poderia avistar a escola. Ao mesmo tempo começam as buscas por Ottie.
Quando chegou ao topo, já noite, Ottie estava cansado, com fome e com frio. Havia andado quase 15 quilômetros. Seu corpo foi encontrado por caçadores no cume da montanha em abril do ano seguinte.
Quando levantei, às sete, Noon Noodle já tinha saído. Fui encontrá-la no final da manhã, observando a vista da Bluff Mountain, a poucos metros do local onde Ottie foi encontrado. “Você saiu cedo!”, comentei. “Eu preciso, senão não consigo fazer as milhas que tenho que fazer no dia”. Ela iria andar em torno de 18 milhas, mas prefere menos. “Pra mim o ideal são 15 milhas. Mais que isso fico muito cansada”, ela disse.
Pouco depois chega o Gas Monkey. Ele é um sujeito com uma cara boa e roupas coloridas: um short estampado, uma camisa florida aberta, chapéu. Já havia esbarrado com eles uns dias atrás, mas não o tinha reconhecido: sigo o cara no Instagram e as fotos são hilárias. “Vocês não sabem de ninguém que achou as hastes de uma barraca não né? Vou ligar pra Big Agnes. Perdi as minhas…” E eu preocupado com um furinho.
Quando passei pelo Brown Mountain Creek Shelter, o outro cara que estava no abrigo de ontem estava lá esperando a Noon. Pink blaze, é assim que eles chamam… Brown Mountain Creek é um local interessante. Nas proximidades do abrigo existem vestígios de uma comunidade de ex-escravos que viveu ali no final do século XIX. O riacho que dá nome ao lugar é lindo, e as áreas de camping são bem cuidadas. Mas ainda era cedo e queria andar um pouco mais.
Continuei subindo até chegar o topo da Cole Mountain, um descampado com 360 graus de vista que é de tirar o fôlego. Acamparia ali fácil se tivesse água e não tivesse uma placa “proibido acampar”. O jeito foi andar um pouco mais até outro descampado mais abaixo, o Hog Camp Gap, onde estou.
Na chegada, o ritual diário: achar um lugar, montar a barraca, passar um pano no corpo, cozinhar, achar uma árvore pra dependurar a comida, escrever. Só que hoje foi com direito a cenas dignas dos Trapalhões… Como o local é um gramadão, achar uma pedra pra jogar com a corda (já contei o processo aqui não?) foi difícil. Achei uma meio grande, mas que daria. Amarrei a corda, joguei, mas ficou perto demais da árvore. No que eu l a corda a pedra agarra em um galho. Pouco um pouco mais forte e a pedra – grande, lembra? – vem direto na minha cara. No reflexo abaixo a cabeça, viro de lado e aquele tijolo acerta meu braço. Hematoma surgindo por aqui…
Ok, deixa pra lá, melhor ir fazer janta. Tiro o fogareiro e o gás de dentro da panela mas esqueço lá o pano que uso pra limpar. Abro o pacote de arroz com feijão já pronto, coloco na panela, coloco um pouco mais de água e começo a esquentar. Só quando vou misturar que vejo o pano. O que você faz numa hora dessas? Torce o pano dentro da panela e volta a cozinhar… Hiker Trash, é assim que eles chamam. Eu que não iria perder aquele arroz com feijão por nada nesse mundo…
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