Appalachian Trail S01E46

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Dia 46, 30/05: south of VA 613 (660.2) a Niday Shelter (685.6)

Distância do dia:  25.4 milhas |  40,88 km

Distância total:  694.4 milhas |  1117,53 km


“Décimo terceiro das cinco últimas milhas. Ontem foram 45 hikers. Tem uma bolha gigante aí na sua frente…” Um caminhante que vinha no sentido oposto me deu a informação do que me esperava. “Na verdade acho que estou é no meio dela. A situação aí pra trás não é muito diferente não”, retruquei.


A trilha a partir de Pearisburg não tem muita variação de altitude. Pelo menos não igual aos estados anteriores. Mas isso não a deixa menos difícil. A coisa é assim: você está em uma estrada, quase sempre de terra e sem movimento. A partir daí a trilha sobe umas 3 milhas. Você vai desviando do barro ou das pedras, até chegar no topo, onde a trilha fica mais plana. São umas cinco milhas por pedras. Ou blocos irregulares de máximo um metro, que você vai pulando de um pra outro, ou grandes blocos inclinados, que te força a andar torto. Não tem água, pelo menos não aparente. Mas ela está lá, correndo por debaixo das pedras, o que justifica a vegetação: muitas samambaias… No final deste trecho, que já é bonito, uma vista. Na descida, mais três milhas de barro e pedras, até chegar a um riacho e um abrigo. Daí é descer um pouco mais e chegar em outra estrada de terra, e a coisa se repete.


É puxado. Se você vem fazendo quinze milhas por dia, é a conta de fazer um circuito desses. O que significa que você precisa carregar comida pra pelo menos uns 5 dias. A maioria dos hikers faz essa média. Pra piorar, com tanta pedra e tanto barro, são poucos os lugares pra acampar. Eu fiz 25 milhas hoje. Ontem também. Cinquenta milhas em dois dias. Quatro desses circuitos. Meus pés estão doendo, e pior: estou com uma leve torção no tornozelo direito…


Cinquenta milhas são 80 quilômetros. Nada irrita mais que esse sistema de medidas dos Estados Unidos. Ninguém mais no mundo sabe quanto é uma milha, um galão, uma onça. Coisa irritante. Eu uso um aplicativo pra converter, mas mesmo assim me embanano. A última vez com o tênis. No último hostel resolvi aproveitar uma promoção na REI e comprei tênis novos. Na hora de escolher a numeração olho o primeiro número na língua do tênis: 8.5. Como meu pé tá crescendo (acredite: seu pé cresce numa caminhada dessas) pedi o 9. Horas depois, sei lá porque, resolvi conferir. 8.5 era o número inglês. Nos EUA seria 9.5. Eu teria que comprar o 10, não o 9. Liguei e tentei trocar o pedido. Já era. “O que posso fazer é mandar pra você o correto e quando você receber você devolve o errado. Ó, no seu pedido está “please hold for Hiker”. No novo vou colocar “please hold for THRU Hiker”. Assim você sabe qual é o certo”. O sistema de medidas é péssimo, mas essa atenção ao cliente é demais…


Durante o dia fui contando. Passei pelo cara que deixou a mochila na beira da trilha pra ir ao banheiro, logo depois por outro que parou pra almoçar. No carvalho mais antigo da AT – mais de 300 anos – passei pelo cara de chapéu e na subida do morro – o terceiro do dia – pelos dois caras mais velhos. As duas amigas eu passei logo depois das torres de energia e não passei em nenhum dos dois abrigos, ambos uns metros fora da trilha, mas deveria ter alguém por lá. Metade dos 14, no mínimo.


Ainda assim quando cheguei no abrigo que iria passar a noite tava lotado. Além das 6 pessoas dentro, pelo menos uma dezena de barracas fora. Achei um canto plano e montei também a minha. Esbugalhado como estou, amanhã ando no máximo umas 16 milhas e paro num hostel, se bobear pra um zero. Só preciso garantir que chego antes da bolha…

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