Dia 1, 15/04: De Amicalola Falls (-8.8) a Hawk Mountain Campsite (8.1). Marcação oficial: 16.2 milhas. Minha marcação: 27,1km, 38.575 passos, 288 andares.
Começos são sempre desafiadores. É difícil tirar o corpo do estágio que se encontrava anteriormente. Assim como é difícil começar um novo texto. A mente tá lá no modo “pensar e falar” e pra sair daí e entrar no modo “escrita” leva tempo.
O primeiro dia na Appalachian Trail levou 48 horas. Saí de Jacksonville, Florida e dirigi por quase 6 horas até Atlanta. Rodovia boa mas trânsito complicado. Devolvi o carro que tinha alugado por 5 dólares a diária e quando fui pagar tinha mais seguro, taxa de devolução, imposto e o escambau e a diária baratinha saiu por 60 trumpetas… Do aeroporto peguei a Marta, o metro local, e fui até a estação final, North Springs.
Já ali comecei a entrar no clima da caminhada. Meu transfer para o hostel foi com outro caminhante. Anton é de origem ucraniana mas mora no Brooklin. Fez trechos da trilha por lá pra treinar. Fomos os três papeando pelo percurso: eu, ele é Neville, o simpático motorista do Uber que foi pegar a gente, fã do Ronaldinho Gaúcho… “O passageiro antes de vocês me perguntou qual a maior corrida que já fiz. Agora tenho a resposta”, disse Neville. Foi uma hora e dez de estrada, subindo montanha.
Fomos os últimos hóspedes a chegar no Hiker Hostel. Por causa disso perdemos a carona para o supermercado pra comprar comida. Por sorte uma pizzaria entregava no local.
Encontrar com outros caminhantes pela primeira vez me deixa sem jeito. É um tal de comparar peso de mochila, perguntas de qual trilhas você já fez que não leva a lugar nenhum. O clima é amigável, o povo parece bacana, mas prefiro evitar.
No café da manhã, todo mundo reunido, foi inevitável. Apesar te achar minha mochila pesada, acima do que eu estava prevendo (comecei com 29 pounds, mais de 13 quilos, incluindo comida e 2 litros de água) ainda assim era a mais leve do grupo. Tinha gente que já tinha caminhado uns dias, voltado pro hostel e a mochila estava com 35 pounds. Isso depois de ter mandando 12 pounds pra casa… Me impressionou o tanto que, de modo geral, os caminhantes são despreparados.
Dos 14 ou 15 hóspedes, cinco começam em Amicalola Falls. Anton tinha 30 dias e iria até onde desse nesse tempo. Jörs, alemão, era o outro estrangeiro. Os outros eram americanos. Deixei todos sairem antes de mim, enquanto tirava fotos e conversava com Margareth, que registrava os caminhantes. 1809 foi o meu número. Contando com quem começou em Springer Mountain, uma três mil pessoas estão tentando a trilha esse ano. Muito mais que ano passado…
Amicalola Falls não é o início oficial da Appalachian Trail. O começo fica a 8.8 milhas à frente, num lugar que carro não chega. A solução é ir até o estacionamento mais próximo de 4×4, andar 2.5 milhas voltando e depois andar as mesmas 2.5 milhas no sentido correto. Ou começar em Amicalola e fazer a Approach Trail, a trilha de aproximação. Foi o que fiz. O trecho é maior e vou te contar: puxado.
Saindo dos arcos do centro de visitantes você tem, logo depois de uns 10 minutos de caminhada, uma escadaria de 604 degraus. Imagina a cachoeira do Tabuleiro com uma escada ao lado. É isso. Você vai paralelo a uma das maiores cachoeiras dos Estados Unidos, da base ao topo. E depois continua subindo…
Passei dois dos caras que estavam no hostel no final da cachoeira. O alemão, já com bolha, logo depois. E antes de chegar a Springer Mountain cruzei com o Anton, já papeando com outro caminhante. “Deixa ele passar porque esse cara anda 40 milhas por dia”, ele disse. Eu tinha começado 9:30 e não era ainda meio dia. Springer Mountain estava logo ali e o abrigo logo depois. Eles estavam programando de acampar logo depois do abrigo. Fiz as contas e chegaria lá antes das 3 da tarde. O sol está se pondo às 8 da noite: lógico que não iria andar só aquilo… “hoje vão ser só 15 milhas”, eu respondi.
Passei Springer Mountain, o início oficial, pouco depois de 13h. A partir dali o caminho era menos acidentado. Cheguei antes das cinco no camping que tinha escolhido.
O ritual vai se repetir diariamente: achar um local, montar barraca, trocar de roupa, cuidar dos pés, pegar água, preparar janta, dependurar a comida, deitar e escrever. Aqui, no lugar de dependurar a comida, são caixas de metal gigantes, com tranca, pros ursos não mexerem. A estrutura é ótima: um riacho no fundo, uma fossa, três desses caixões anti-urso. Só. Meu banho foi de lenços imoderados e meu jantar foi excelente: um chili gluten-free e vegetariano desidratado da Good-to-Go. Sério: muito bom.
Adilson Moralez
Legal Jeff, estou te acompanhando e torcendo por você. Curta cada minuto, cada minha e traga muitas histórias e experiência de vida.
Grande abraço
Jeff Santos
Fala mestre! Obrigado! Colocando em pratica aquele projeto finalmente! Abraço!
Frederico
Que massa Jeff. Boa sorte!!!
Elaine
Tava doida pra saber da noite na barraca. Continue postando. Dormiu bem?
Jeff Santos
Conto no post de amanhã!
paulo toledo
Grande Jeff . Seu amigo distante de bike da Estrada Real . Vou “viajar “contigo . Boa sorte !! forte abs . Paulinho Toledo ( amigo Adilson Moralez )
Jeff Santos
Fala Paulinho! Tô aqui, meu caro! Um ano depois da gente falar disso! 🙂 abraço!
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