Dia 107, 30/07: Woods Road (1780.7) a Lost River Rd, NH112, Kinsman Notch (1800.4)
Distância do dia: 19.7 milhas | 31,70 km
Distância total: 1800.4 + 8.8 milhas | 2911,62 km
Distância que falta: 389.4 milhas | 626,67 km
Dias que faltam: 24
Omelette Guy. O cara começou a fazer Trail Magic em junho e já é uma lenda. Fui ouvir falar dele ainda em New York, eu acho. Talvez antes. A gente acampou logo antes da estrada porque sabia que iria encontrar com ele logo. Ainda não era oito quando cruzamos a entrada de terra. Ele estava parando a caminhonete. Desceu com o cachorro, Liberty, e dois galões de entulho pra tapar uns buracos na trilha. “Bom dia! Querem um café? Eu tenho um lugar logo aqui acima na trilha”.
O lugar é quase barraco: uma tenda com um fogão, mesas, um gerador de energia, cadeiras. “Eu sou o Omelette Guy. Tem café, suco, fiquem a vontade. Querem um omelete? Quantos ovos? Presunto, queijo, pimentão??” Incrível. Ele se aposentou em março. Junho começou a fazer isso. Usa em média umas 8 dúzias de ovos por dia. O presunto é uma coxa de porco mesmo, que ele mesmo fatia. Tem bananas, muffins, música. Ele fica ali batendo papo e preparando os omeletes. Ficamos ali tipo uma hora. Dois omeletes de quatro ovos cada, três xícaras de café, dois muffins, três bananas e dois copos de suco depois saímos.
Não sei o que seria de mim de mim sem aquele café da manhã. Era o início das White Mountains e logo de cada uma subida até 4800 pés no Mount Moosilauke. A vista compensa o esforço. E que esforço…
O plano inicial era ficar num abrigo e descer o resto da montanha amanhã. Mas o dia estava tão agradável, tudo indo tão bem, que resolvemos descer. Afinal, eram só 1.6 milhas, dois quilômetros e meio de descida, e não poderia ser tão ruim…
Errado. A descida era complicadíssima. Seguia ao lado de uma cachoeira. Pedras, raízes, alguns trechos com um corrimão instalado para ajudar. E demorou mais de duas horas pra chegar à estrada. Mas ainda bem que resolvemos descer: esse trecho, molhado pelo orvalho, ia ser mais complicado ainda…
Foi o Omelette Guy que deu a dica do lugar pra ficar. Chet deixa os caminhantes ficar na sua garagem em troca de doação e/ou trabalho voluntário. Ele trabalhava para uma grande empresa que faz equipamentos de aventura, incluindo gás, quando um botijão explodiu na sua frente. O acidente comprometeu seus pulmões, ele ficou 8 meses em cima e hoje usa cadeiras de rodas. O lugar é uma zona, com colchões no chão, sofás, beliches. Os A casa do Roberto, na Estrada Real, parece um palácio perto daqui. Talvez o lugar mais sujo e bagunçado da trilha até agora.
O segundo lugar mais bagunçado até agora: o primeiro é o carro que deu carona pra gente chegar lá… Um Cadillac 83 com tanta tralha e lixo nos bancos e porta malas que mal coube a gente. Eu e Wash Bear nos esprememos no banco da frente ao lado do motorista, que tinha um cigarro na das mãos e um copo de café na outra. Nossos pés sumiram num monte de copos de papel e lixo no assoalho do carro. O motorista não parava de falar. Uma figura.
O tempo anda bom e a ideia é andar em torno de 15 milhas por dia nas White Mountains. Amanhã subimos Mount Wolf e Kinsman e voltamos aqui pro Chet. É uma zona, mas o preço vale a pena.
Adilson Moralez
E aí Jeff, puxa se o local é pior que a casa do Roberto na Estrada Real, realmente é ruim 🙂
Grande abraço e sigo te acompanhando e feliz por estar completando.