Dia 52, 05/06: Thunder Hill Shelter (770.3) a Johns Holloway Shelter (786.6)
Distância do dia: 16.3 milhas | 26,23 km
Distância total: 795.4 milhas | 1280,07 km
Eu tive problemas com minha barraca nos primeiros dias de chuva. Mas conversa com um, pega dicas com outro e agora estou fera. A Big Agnes UL Fly Creek, esse modelo que estou usando, é uma barraca super leve (o UL é de Ultra Light) e técnica. Isso quer dizer que todo o material desnecessário foi eliminado. Então não é só pegar a barraca e montar, como eu tava fazendo. É preciso ter atenção na tensão de cada corda pra que a capa de chuva, que não tem nem um milímetro de sobra, pra não aumentar o peso, não tenda mais pra um lado que pro outro. Era isso que estava acontecendo antes. Mas fiz meu dever de casa e agora estou fera.
Por isso noite passada, quando a chuva começou, eu nem liguei. Virei pro lado e continuei dormindo. Hoje pela manhã ela continuava. Acordei às 7 mas tirei mais um cochilo. Quando deu uma maneirada busquei minha comida e fiz um café, que tomei com um biscoito delicioso de doce de leite que achei no supermercado. A chuva lá, caindo e aumentando… Aí fui fazer outras coisas pra passar o tempo. Como, por exemplo, costurar minhas meias, já furadas. No que eu dei uma arredada (não-mineiros: arredar é um verbo muito usado lá na minha terra e significa chegar pra lá, mudar de posição) no isolante térmico lá está ela: água. Pra todo lado. Só aí fui perceber que estava entrando água na minha barraca não só porque eu não estava montando ela direito, mas ela estava com um corte na parte debaixo. Pequeno, meio centímetro (americanos, isso é 0.2 inches), mas se chove muito e tem água que passa por debaixo da barraca, como era o caso de hoje, acaba entrando.
Pronto. Era o que eu precisava pra empacotar tudo, debaixo de chuva mesmo, e seguir caminho. Já devia ser quase dez da manhã. Mas a preguiça na barraca depois do longo dia de ontem foi ótima.
“Ei Speedy!” Era ele, o mala. Eu tinha andado 5 milhas (brasileiros, isso é 8 quilômetros) e tinha parado na beira de uma estrada pra ver até onde iria hoje quando os dois chegaram. Não fazia sentido… Ontem eu tinha andado 23 milhas, mais 5 hoje, 28. Eles saíram ontem depois de mim, foram na cidade e voltaram pra comer. Com isso dificilmente andaram mais que 18 milhas ontem. Pra estarem ali já teriam que ter andado 10 milhas na parte da manhã, na chuva. A conta não fechava… Dei um oi, pesquei um pouco da conversa onde combinavam de andar mais umas 8 milhas, e segui, disposto a fazer mais que isso.
Uma das tradições da Appalachian Trail é pular da ponte que cruza o James River. É uma ponte exclusivamente a pé. Em inglês, footbridge. Como todos os footbridges que eu tinha passado até agora era de madeira, minha tradução era pinguela. Mas o footbridge do James River não: é uma ponte mesmo, a maior footbridge da trilha. Não pulei, claro: além de ilegal é perigoso. E não tenho mais idade pra essas estripulias. Mas passei na ponte e resolvi acampar no abrigo que tem logo depois. Como o antes da ponte estava lotado, imaginei o mesmo desse. Mas cheguei é só tinha um cara que eu já tinha conhecido em Damascus e uma garota, a Noon Noodle. Como a chuva já tinha parado, amarrei minha corda entre duas árvores, botei minha barraca pra secar e fui fazer meu jantar e conversar com eles. Contei o caso da manhã, da água, do furo, e o cara: “cola com super Bonder!” E a garota: “não! Eu tenho um kit pra reparos. Te dou um pedaço do adesivo!”
Esperei a barraca secar, achei o danado do corte, lasquei um pedaço de adesivo de cada lado. Agora eu aposto que não chove mais nenhuma noite até o final da trilha… quer ver?
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