Dia 51, 04/06: Bobblets Gap (746.6) a Thunder Hill Shelter (770.3)
Distância do dia: 23.7 milhas | 38,15 km
Distância total: 779,1 milhas | 1253,84 km
Os dias vão passando e nem vou me dando conta de umas coisas. Ontem, por exemplo, passei a marca de ⅓ da trilha. O que quer dizer isso? Primeiro que ainda falta muito. Segundo que estou exatamente na média pra completar a trilha nos 150 dias que me propus, mesmo com a parada. E isso é bom…
Ontem pensei em acampar perto de um shelter, mas não tinha espaço pra barraca. E o shelter estava cheio. Andei uns 50 metros e achei um lugar bacaninha, do lado da trilha. Antes de acabar de montar minha barraca chegam mais dois caras, um deles, um mala. Chato pra dedéu. Não para de falar um minuto, e essa é o tipo de coisa que me irrita. “Pense três vezes antes o que vai falar”, dizia minha mãe. E tem gente que fala pelos cotovelos.
No pouco tempo que ficou sem falar comigo ou seu colega de caminhada – ele mais bacana, da Carolina do Sul – o outro ficou no telefone. Antes dele acabar me joguei pra dentro da barraca, botei os fones e fiquei no meu mundo, quase sem ouvir a coisa interminável dos dois. Vez ou outra ouvia um “a gente tá te incomodando, Speedy?”, mas fingia que não ouvia. Quando ri de umas histórias que a Ale me contou da Lis ouvi o engraçadinho falando com voz alterada: “aí, tem alguma coisa engraçada ali. Espero que não esteja rindo da gente…”
Às seis da manhã em ponto escuto um “bom dia Speedy”, eu ainda na barraca dormindo. Prestei atenção na conversa dos dois e pelas minhas contas de levantasse naquela hora – muito mais cedo do que tenho levantado, que é por volta das 7:30 -, empacotasse minhas coisas e desse o pé dali rapidinho eu nunca mais veria aquele sujeito. Valia o esforço e foi o que fiz. Levantei, peguei minha comida que tava dependurada – e ainda tive que ouvi um “você deveria ter dependurado sua comida mais longe do tronco. Vi vários vídeos no YouTube de ursos subindo em árvores e pegando sacos com comida…” – empacotei as coisas e piquei a mula.
Esses dois eram a primeira prova que estou atravessando uma outra fase dA Bolha. Nunca nenhuma das pessoas que encontrei ontem ou hoje. A turma que andei os últimos dias ou ficou pra trás, no Trail Days de Troutville, ou passaram na minha frente, por causa do meu nero. Essa bolha é mais falante, mais agitada e aparentemente mais lenta. Numa conversa de dois hoje numa das paradas um deles ficou assustado quando o outro disse que tinha começado no dia 3 de abril: “nossa, você está andando rápido! Todo mundo que tenho cruzado começou em março…”
Por ter levantado tão cedo a fone hoje bateu daquele jeito. E fiz algo que ainda não tinha feito: parei pra almoçar. Almoço mesmo, não lanchinho como venho fazendo. Parei num shelter por volta de meio dia e esquentei um arroz com feijão pronto que tinha na mochila. Dei uma incrementada com o pepperoni que trouxe e voilá! Até já tomar um café depois, mas aí chegou uma gangue de uns 8 hikers que estão caminhando junto e Speedy Gonzalez virou de novo Leão da Montanha: saída pela esquerda
Na trilha, bem sem graça durante todo o dia, o ponto alto foi chegar na Quilhotina, uma pedra equilibrada entre duas outras, onde a trilha passa por baixo. Antes dela um prédio da aeronáutica que surge no meio do nada. A sensação de estar em Lost nunca foi tão forte.
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