Dia 92
Snow Lake
41 km hoje
3076 km total
Ouvi o Domino chegando durante a noite. Ele também havia dormido na estrada, junto ao trail magic da noite passada, e tinha saído depois de mim. Na madrugada – madrugada de caminhante, já que não deveria ser mais que dez da noite, uma vez que eu havia ido deitar às nove – ouvi os passos e os ruídos de alguém montando a barraca. Não sabia que era ele: só fui vê-lo na manhã seguinte.
Apesar de ter chegado tarde ele saiu antes de mim. Mas o passei ainda cedo. Eu tinha um objetivo no dia: chegar ao Kraker Barrel, um posto de gasolina e loja de conveniências onde sabia que tinha uma caixa à minha espera – a que a @misstetei havia me mandado. Foi ela que começou a usar a #engordaJeff, que tenho tentado ao máximo seguir…
Sabia que chegaria por ali só no meio da tarde, por isso quando a hora do almoço se aproximou fui colocar o lema em prática. No alto de uma montanha, tinha o lindo e impressionante Monte Rainier, a montanha mais alta de Washington de um lado e um lago à frente. De repente, um estrondo e uma barulho altíssimo. “Avalanche!”, pensei, virando o rosto pra olhar pra montanha. Antes que pudesse me mexer dois caças decolam de algum lugar próximo e passam voando baixo. Não esperava a cena.
Chamado de Tacoma na língua indígena e com 4392 metros de altura, o Rainier é um vulcão a menos de cem quilômetros de Seattle. Monitorado constantemente, acredita-se que uma nova erupção é questão de tempo: a última vez que acordou foi a mais de 200 anos.
Quando cheguei a Kraker Barrel e peguei a caixa, fui de novo surpreendido pela gentileza de uma pessoa que ainda não conheço pessoalmente. Stephanie me mandou guaraná, doce de leite, biscoitos brasileiros, bala delícia, mandioca pré-cozida. Um deleite. Saí pesado e feliz.
Já tinha montado minha barraca às margens do Snow Lake quando o Thriller chegou. Ele tem a barba cerrada, cara boa e levou 30 dias da fronteira do Canadá até aqui. “Eu ganhei meu trail name porque tenho muitas referências ao Michael Jackson”, ele me disse. “Como assim? Você não está fazendo a trilha andando de costas como no moonwalk, está?”, eu perguntei, em tom de brincadeira. Ele riu e disse que não: como usa luvas claras, sempre tira apenas uma pra pegar água, por exemplo. “E às vezes canto as músicas dele em voz alta”, ele disse. E completou: “não sei porque chamam esse lago de Snow Lake. É a água mais quente que já peguei até agora”. Eu concordei. Mas era só esperar. Com o vento frio que vem do Rainier pela manhã
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