Dia 91
Washington
46 km hoje
3035 km total
Nada como aquele que provavelmente foi o melhor dia na trilha até agora pra comemorar os três meses e três mil quilômetros caminhados. Deixa eu repetir: Três meses de trilha. Três mil quilômetros caminhados. Em média, andei mil quilômetros por mês. Não é pouca coisa…
Só fui reparar nesses números depois. De manhã eu só pensava no café e nos ovos. Tinha dormido mal: a estrada é de terra, pouco movimentada, mas os poucos caminhões carregados de madeira que passam por ali passam chutados. E eu estava acampado bem na beira da estrada… além disso havia chovido à noite e a manhã estava fria.
Fiz o café e ovos mexidos, que comi com uma tortilha, agradeci e peguei a trilha. No caminho passei pelas lhamas que acompanhavam o amigo de Jim: ele faz parte de um grupo de caminhantes que tem Parkinson e voluntários e suas lhamas acompanham esse grupo, ajudando a carregar suas mochilas.
O dia ia tranquilo, eu andando de boaça e quando parei na hora do almoço tive um banquete: queijos e embutidos espanhóis que a Dri tinha me mandado e a cerveja que acabei não tomando na noite passada.
Na parte da tarde, à medida que ia me aproximando de Goat Rock, mais bonita a paisagem ficava. Atravessa a reserva indígena Yakima, flores silvestres iam surgindo, o horizonte se abrindo e as belezas de Washington se revelando.
Numa das encostas uma cachoeira despencava ao lado da trilha. Não tive dúvida: tirei a mochila e o tênis e entrei nela. Aquela água de degelo caindo nas minhas costas foi revigorante: saí dali disposto a cruzar a crista da montanha antes do sol se pôr. Mas não foi só isso: o número de turistas também me assustou. As áreas para acampar estavam cheias e acreditava que do outro lado seria mais tranquilo. E eu estava certo.
São dois caminhos antes de se chegar à crista: como a PCT pode ser feita a cavalo, a trilha “oficial” segue mais um pouco mais baixo. A trilha “alternativa”, que só pode ser feita a pé, vai até o topo para depois descer e fornece um visual deslumbrante. São apenas 800 metros, mas que exigem tempo e disposição. Comecei a subir já quase às sete da noite.
Atravessava o topo já com o sol se pondo. O visual era incrível, mas precisava descer até algum lugar onde seria possível acampar. Após cruzar um pequeno curso d’água, uma mata à esquerda me chamou a atenção. Entrei nela e lá estava um espaço perfeito pra montar a barraca, protegido do vento e com o horizonte à minha frente. O dia começou bem e terminou ainda melhor.
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