25/06, terça.
Dia 42 da trilha.
45 km (28 milhas) caminhados.
Chicken Spring Lake.
KM 1208 da PCT. “Você consegue, Jeff. Você consegue…” Era nove horas da noite e eu falava isso em voz alta. Não havia ninguém por perto. Eu estava tentando chegar a um ponto onde havia passado no dia anterior e que eu sabia que havia sinal de celular. Eu estava voltando na trilha, refazendo em um dia o que eu havia feito em dois. Eu estava sozinho. Eu estava cansado. Eu estava emocionalmente abalado. Eu havia visto a morte de perto.
Não existe uma forma rápida e simples de contar o que havia acontecido mas últimas 20 horas, mas eu vou tentar.
Acordamos meia noite para subir o Monte Whitney. Saímos 00:40. Chegamos na base por volta de 2:00 e começamos a subida. Neve, noite. Por volta das 3:30, a 4.000 metros de altitude, quase mil metros acima do acampamento, a trilha desaparece. Algumas pessoas começam a escalar a neve até o próximo nível da trilha. Eu faço o mesmo. Faltando dez metros pra chegar eu perco o controle e deslizo montanha abaixo. Tento parar a queda com meu ice axe uma, duas, três vezes. Bato em uma pedra, consigo parar no espaço entre ela e a neve. “Eu estou bem!”, grito. Não consigo ver o que tem abaixo de mim, nem acima. Vejo que é possível sair do gelo e subir na pedra, e é isso que faço.
Quando consigo enfim ver as luzes das lanternas de meus colegas, a expressão no rosto deles é de desespero. Eu havia deslizado 15, 20 metros. Eles viam minha luz se afastando até sumir por completo. “Eu estou bem”, repeti. “Podem seguir e espero vocês na volta”. Quatro foram, outros dois ficaram. Quando o sol surgiu, quase duas horas depois, eu finalmente pude ver que a pedra que parei era a última. Abaixo dela apenas um paredão de neve de quase um quilômetro, numa inclinação de 75 graus. Eu nunca teria subido ali se estivesse vendo onde eu estava.
Ben estava na trilha abaixo, cerca de 30 metros de mim e Mahni, que havia chegado na mesma pedra que eu. “O melhor é a gente subir pelas pedras até a trilha e depois descer também pelas pedras até onde o Ben está”, concordamos. Subimos. Pra chegar às pedras era preciso cruzar mais uns 15 metros de neve. Tentei ir na frente. Não consegui.
Tive um ataque de pânico, choro, respiração ofegante, meu corpo tremia. Depois outro. E mais outro. Eu precisava sair dali. Às 6:30 eu acionei o botão de SOS do meu Spot.
Os park rangers chegaram às 9:30. Meu grupo já estava de novo reunido, depois de chegarem ao topo. Me acalmaram e descemos da montanha, quase sempre pelas pedras. Me fizeram uma avaliação médica, confirmaram que estava tudo ok. “Só essa semana tivemos nove chamados e duas mortes”, me disse um deles. “Você fez o correto”. Cheguei ao camping base uma da tarde. A única coisa que eu queria era falar com a Ale. Não havia conseguido pelo telefone de satélite dos rangers. Desmontei minha barraca e voltei pela trilha que havia feito nos dias anteriores até o ponto que eu sabia que havia sinal de celular.
Por volta das oito da noite, cansado, desorientado, eu me perdi. Não acreditava no que o GPS me mostrava. Subi ao invés de descer. Achava que estava em um lugar quando estava em outro.
Às nove da noite me dei por vencido. Montei a barraca no único espaço que achei. Não iria falar com a Ale hoje. Mas certamente falaria pela manhã.
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