A trilha da trilha: Titãs – Comida
A gente ocupava pelo menos seis mesas, as mais próximas da entrada. Era a única parte realmente cheia do McDonalds que fica ao lado de um posto de gasolina de uma movimentada rodovia da Califórnia. Éramos pelos menos doze pessoas, caminhantes mal cheirosos e famintos, ocupando mesas e bancos com mochilas e bastões de caminhada e bandejas com quantidade de comida pra alimentar uma família.
Ele entrou o restaurante quase sem ser notado. Trazia uma caixa de barra de cereais nas mãos. Entregou sem dizer nada pra um dos caminhantes e já foi saindo novamente. Abriu a porta com a mão esquerda, parou, olhou pra trás e viu que não teria barra de cereal suficiente pra todos. Saiu. Voltou pouco segundos depois com saquinhos de biscoito e bananas e deu pra quem ainda não tinha ganhado. “Muito obrigado”. “De nada. Eu ganhei isso hoje mas não consigo comer, porque estou de dentadura nova”, ele disse, tirando os dentes pra mostrar. “Essas barras de cereal eu ganhei da igreja. Eu sou sem-teto e eles sempre me dão algumas coisas”. E saiu pra não voltar.
Ganhar comida de um mendigo. É essa a realidade de um caminhante de longa distância…
A gente estava no McDonalds de Cajon Pass quando o sem-teto dividiu sua comida com a gente. Eu já tinha andado 40 quilômetros e minha camisa branca estava tie die marrom, de tão manchada de poeira e suor. Certamente estava mais fedido e mal vestido que ele…
Até ali o dia tinha sido duro. Tyler e eu vínhamos caminhando junto o dia inteiro, sofrendo as consequências do dia anterior. No final da manhã paramos no agradável Silverwood Lake para um banho e um lanche, mas o que nos fazia mover era o sanduíche da lanchonete.
Lá reencontramos Sydney e Ed. Austin está à frente de nós. Ficamos um bom tempo ali comendo, conversando e descansando os pés.
Só saí de lá porque o dia ainda não tinha acabado. Sem lugar pra acampar por perto, era preciso andar pelo menos mais 8 quilômetros até o próximo camping.
Com os pés descansados e a barriga cheia com três sanduíches, uma salada, um litro e meio de refrigerante e um milk shake grande saí dali antes dos outros pra enfrentar a Serra que me esperava.
Sozinho, vim apreciando a vista que já nos acompanha há alguns dias: a cadeia das montanhas San Gabriel, pra onde a gente se dirige. Depois de amanhã tem mais neve: vamos subir os 2867 metros do Monte Baden-Powell.
Leave a Reply