Dia 93
Crow lake way
47 km hoje
3123 km total
Em maio de 2016 Kris Fowler, um americano de Ohio de 31 anos, começou, assim como centenas de outros caminhantes, sua jornada de Campo, na Califórnia, ao Meaning Park, no Canadá. Assim como eu ele tinha o objetivo de completar a Pacific Crest Trail. No caminho ganhou o apelido de Sherpa.
No dia 10 de outubro ele passou por White Pass e assim como eu também pegou uma caixa na Kracker Barrel, a loja de conveniências junto a um posto de gasolina. Dois dias depois uma tempestade de neve Co considerada a maior em Washington nos últimos anos atingiu a área. Sherpa nunca mais foi visto.
Cartazes com a foto de Sherpa e a descrição de seus equipamentos estão por todo lado entre White Pass, onde fica a Kracker Barrel, e Snoqualmie Pass. Hoje, quando encontrei com um caminhante chamado Caveman, que também fez a trilha em 2016, ele me disse que desde então volta anualmente a esse trecho para tentar encontrar algum sinal que o leve a Sherpa. “Eu passo os dias nesse trecho. Saio da trilha, ando pelo mato… Eu acho que ele teve hipotermia, ficou desorientado e se perdeu. Qualquer conformo que eu puder trazer pra família me deixaria feliz”, ele disse. Também me alertou para os trechos ao norte de Snoqualmie Pass. “Passei lá no mês passado e o mato está grande em alguns pontos. E do outro lado da trilha… bem, no outro lado não tem nada”. O que ele quis dizer foi “tome cuidado. Um passo errado ali e já era”.
O sumiço de Sherpa é ainda mais misterioso porque esse trecho da trilha é um dos mais movimentados até agora. Cruzei dezenas, talvez uma centena, de turistas. A trilha passa em uma das estradas que chegam ao Parque Nacional do Monte Rainier. Dali, são poucos quilômetros para o Dewey Lake, que estava lotado. Mas é um parque federal, com áreas virgens e se perder ali pode resultar nisso. É improvável, mas não impossível.
Outro caminhante que cruzei foi Goaltech. Ele vinha na direção contrária, rumo ao sul. “Eu faço trechos da trilha todos os anos. E sou trail angel. Você pode escolher entre um sachê de café Starbucks, um pacote de salgadinhos ou três caramelos”, ele disse. Escolhi os salgadinhos. Ele trazia um saco cheio deles nas costas. “Já teve dia que distribui mais de cem”, ele comentou.
Solidariedade. Esse é o espírito da PCT.
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