Distância do dia: 33,48 km. Distância total: 696,27 km.
Foi uma boa descoberta a pousada Mirante da Serra, em Prados. Bem na entrada da cidade, entre o último marco do caminho e o local de carimbo do passaporte, é tranquila, apesar de estar na esquina da rodovia que corta a cidade. Seu Armando, o dono, é dedicado ao novo empreendimento. “Trabalhei muitos anos como representante de frigobar e sei como é ruim ter que abaixar pra pegar alguma coisa. Por isso nos quartos coloquei logo uma geladeira”, avisa. E dá a dica de uma pizza boa no quarteirão. “Senão só tem coisa pra comer lá embaixo”.
Lá embaixo, descobri na manhã seguinte, é onde é a cidade. Desci a rodovia querendo achar a Igreja de Nossa Senhora do Carmo, de onde o caminho do dia começaria. Saí da pousada às 7:15. Esperei o café e estava contando de andar no meu ritmo usual pra chegar em São João Del Rei as 13h, onde iria almoçar com minha irmã. Só que o primeiro marco nunca chegava. Passei o centro, a igreja matriz e nada. Andei por quase uma hora até pedir informação pela quinta vez pra dois senhores. “A Igreja é lá na frente. Só ir reto”. Já passava das 8 quando cheguei na Igreja e comecei oficialmente a caminhada do dia.
Não esperava novidades até São João. E atrasado pro meu encontro taquei-lhe o pau. Nem precisei usar os bastões: ou o caminho era plano e de terra batida, sem cascalhos, ou era de pedra, o que faz o que à ponta do bastão agarre. Fui andando num ritmo rápido, passando batido por paisagens que já conhecia. Bichinho? Ok. Lá vem a tortura dos 10km de pedra até Tiradentes. Na chegada da cidade Dona Onofra, parada na porta de casa, me chama pra mostrar sua horta de ervas. “Olha, tem de tudo. Até mariachicão. Experimenta”.
Cheguei na cidade mais charmosa da Estrada Real e nem parei. Dei uma geral no Largo das Forras, vi que tudo continuava (felizmente) como antes e continuei. No meio do caminho pra São João lembrei do passaporte. Simplesmente esqueci de carimbar. Já era. Não iria voltar. A opção A seria minha irmã estar com a tarde vazia e me dar uma carona de volta e B pegar um mototáxi quando chegasse em São João. Segui em frente.
Totem que é considerado o Marco Zero da Estrada Real? Já conheço. Santa Cruz de Minas? Já tinha passado. Quando entrei em São João mandei uma mensagem pra minha irmã, dizendo que chegaria no horário combinado.
Encontrar pessoas desconhecidas e fazer amizades no caminho é ótimo. Mas nada supera rever um rosto conhecido. A emoção é gigante. Foi assim quando Alê me pegou em Glaura e agora de novo com Leninha em São João. Conversamos, almoçamos, e ela se prontificou a me levar de volta a Tiradentes pra pegar o carimbo. No retorno, passando pelos mesmos lugares que tinha caminhado horas antes, a sensação era estranha. Um Deja-vu fresco, mas com ritmo alterado.
O sentimento foi mais forte – bem mais forte – quando entrei no ônibus da Viação Sandra que me levou de volta a BH pro final de semana. Passava por cidades que havia caminhado há uma semana e ia lembrando do padaria onde lanchei, do banco onde tirei dinheiro, da árvore que achei bonita, da casa charmosa, da igreja que fotografei, do trevo que tive que cruzar. Mas tudo passava rápido, nenhum detalhe se destacava. Não ouvia os sons nem sentia os cheiros nem via as coisas que tinha visto. Viajava na velocidade errada, tudo ia rápido demais. Do jeito que tinha visto antes era melhor, bem melhor.
Leave a Reply