Dia 45, 29/05: Pearisbourg (634.3) a south of VA 613 (660.2)
Distância do dia: 25.9 milhas | 41,68 km
Distância total: 669 milhas | 1076,65 km
Alguns dos melhores whiskies dos Estados Unidos são feitos no Tennessee. O Jack Daniels é só a marca mais famosa, mas existem diversas outras marcas menores e tão boas quanto. Algumas até melhores, diriam alguns. Uma em especial pode até salvar a sua vida. Pergunte a um hiker australiano que fazia a AT no ano passado. Ele ganhou uma dessas garrafinhas de dose do tal whisky (não me pergunte, não sei a marca), colocou em algum bolso da mochila e esqueceu. Certa noite, frio e chovendo, se levou da dose. Levantou da barraca e foi buscar a garrafinha na mochila. Nesse exato momento uma árvore desaba e acerta em cheio a barraca do australiano. Salvo pelo whisky do Tennessee
Lembrei dessa história porque o plano do dia era sair de Pearisbourg e andar umas 18 milhas até o Pine Swamp Branch Shelter. Mas ontem no hostel mesmo vi que o estava interditado, bem como uma boa área no entorno dele, devido ao risco de árvores caírem. A culpa não é nem da chuva nem da terra macia no lugar, mas da mariposa cigana. Tipo o que acontece com os ficus de Belo Horizonte. Muitas das árvores próximas ao shelter estão de pé, mas estão mortas.
O abrigo fica próximo a um rio, o Stony Creek. A descida para o vale e a saída dele é de impressionar. São dezenas de árvores tombadas, de todos os tamanhos. Algumas já foram serradas ou tiradas pelo pessoal que faz a manutenção da AT, mas em muitos casos é preciso passar por cima, por baixo ou desviar dos troncos.
Não foi só esse o desafio do dia. Longos trechos sem água e com bastante pedra marcam as proximidades dos dois outros abrigos que passei. Cheguei no Balley Gap, que fica a 5 km do Pine Swamp, já umas 5:30 da tarde. Mas estava lotado: era um dos poucos locais possíveis de ficar, mesmo acampando, em um longo trecho. Resolvi andar um pouco mais pelo menos até um ponto de água que existia logo depois. Mais pedras, nada de acampamento…
Já tarde e eu cansado, minha tática nessas situações é a seguinte: pegue o máximo de água que der e acampe no primeiro lugar que aparecer. Foi o que fiz. Três litros de água, sufiente pra fazer o jantar e matar a sede, e na primeira clareira que surgiu montei minha barraca.
Eu carregava na mochila o dia todo uma lata de cerveja que tinha sobrado de ontem. Fiz um frango teriaki, temperei com um vidrinho de Tabasco que tinha pegado numa Hiker box, abri minha cerveja e aqui estou. Nenhuma árvore caiu, mas essa cerveja salvou a minha vida.
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