Dia 16, 30/04: Tri-Corner Knob Shelter (221.9) a Standing Bear Farm (240.6). Distância oficial: 18.7 milhas. Minha marcação: 26.5 km, 46.263 passos, 225 andares. Distância Total Oficial: 401,36 km
Na casa da minha avó, a que a gente tinha que caminhar uma milha pra poder chegar, tinha 5 pés de manga plantados lado a lado. Um de cada espécie. Comum, pequi, coração de boi, espada, coquinho. A grande diversão era subir no primeiro e ir pulando de galho em galho, até descer no último. E no caminho ir experimentando aquelas delícias. Na parte de baixo as árvores faziam um corredor de sombra boa, um corredor verde.
Rhododendron. Essa é o único arbusto que consigo lembrar o nome. Rhododendron. Eles estão por toda a trilha, exceto nas partes mais altas, onde são substituídos pelos pinheiros. Tem cerca de 3 metros de altura e suas folhas são grandes e verde-escuras, que me lembram as folhas dos pés de manga. São eles, os rhododendrons, que são à Appalachian Trail o apelido de Green Tunnel, Túnel Verde. E toda vez que passo por um túnel de rhododendrons lembro dos pés de manga da cada da minha avó.
Como passei os últimos 4 ou 5 dias acima dos 2.000 metros os rhododendrons estavam sumidos. Foram reaparecer hoje, quando comecei a descer as Grandes Montanhas Fumegantes. De novo, estavam por toda parte.
E hoje foi só ladeira abaixo. Literalmente. Saí dos 2.000 metros de altitude e cheguei aos 400. O caminho foi até monótono. Desce, desce, desce. Trinta quilômetros descendo (de novo, essa marcação do IPhone tá me sacaneando). De diferente só um cobra pelo caminho e um casal passeando de cavalo (nas Smokies não pode passear com cachorro, mas pode andar de cavalo).
Na saída do Parque aquela surpresa: uma caixa de isopor com a mensagem “não desista! Você acabou de sair das Smoky Mountains! Maine está logo ali!”. Dentro, Trail Magic: Coca-Cola! Cerveja! Mexericas! Doritos! E logo depois, chegando na estrada, dois caras num barco inflável me perguntam: “você é thru-Hiker? Quer uma cerveja?” Sim e sim, essa é a resposta, meus caros! Os dois fizeram a trilha em 2012 e agora gerenciam uma agência de aluguel de barcos aqui perto. E logo depois uma moça abre o porta-malas do carro: “estou acabando de voltar do supermercado. Quer alguma coisa?” Uma banana seria ótimo!
São assim que as coisas funcionam nessa comunidade da trilha. As pessoas simplesmente te ajudam, e te dão comida, bebida, cerveja, só porque você está ali caminhando aqueles 2200 milhas. É fascinante. Me emociono todas as vezes que encontro um Trail Magic.
A chegada foi em uma típica fazenda do interior do Tennessee. Você consegue imaginar. Uma casinha do século XVIII, meio caindo as pedaços, mas com uma cama, uma fossa e um chuveiro, tudo o que eu queria pro dia. As cervejas que ganhei no caminho foram prêmios-extra. Inesperados, mas super bem-vindos.
Trail Magic é o nome que se dá a essas boa-ações que as pessoas fazem para os caminhantes. Pode ser qualquer coisa: um lanche, uma garrafa d’água, uma carona. Às vezes são simples caixas de isopor com algumas garrafas dentro. Outras vezes são organizados por grupos de voluntários – de igrejas, por exemplo – e tem de tudo. Alguns com churrascos e cachorros quente, dizem, mas ainda não peguei um desses.
Quem faz esse tipo de coisa é chamado de Trail Angel. Muitos são anônimos: deixam as coisas por lá, na beira da trilha, e voltam pra casa. Outras vezes ficam por lá. São ex-caminhantes ou simplesmente gente que queria fazer a trilha mas não tem o tempo ou à disposição pra fazer isso. E te invejam por você estar lá, passando 5 ou 6 meses caminhando.
Antonio Fernandez Árias Neto
Você é uma pessoa liga a eventos , música, sinto lhe informar Belchior morreu ontem
Júlio César dos Santos
E ainda há os que não acreditam em anjos!
Boa caminhada, irmão!