Dia 02, 16/04: Hawk Mountain Campsite (8.1) a Lance Creek (24.3). Distância oficial: 16.9 milhas. Medição minha: 25 km, 42.449 passos, 228 andares. Distância total: 52,1 km
Sempre fui um cara urbano. Gosto de cidades, gente, confusão. Por isso saí de Divinópolis da adolescência: já não me cabia na cidade. Sempre fui da noite, de acordar tarde e ir dormir mais tarde ainda. Por causa disso nunca acampei. Não era o meu ambiente. Achava monótono.
Quando resolvi fazer a AT dormi um dia na barraca, montada no quintal do sítio da minha irmã, perto de Ibitipoca. Lis dormiu comigo, pelo menos parteda noite. Vomitou na madrugada e até a barraca cheira a leite azedo.
Meu primeiro acampamento MESMO foi ontem, na minha primeira noite de trilha. A AT tem uma característica que se você quiser fazer a trilha toda, de cabo a rabo, sem levar barraca é possível. São dezenas de abrigos pelo caminho, a uma distância média se 10km entre eles. Cabem de 4 a 40 pessoas, dependendo de onde fica. E é na base de quem chegar primeiro pega o lugar. Não era esse o meu caso: eu quero acampar sempre que possível.
Passei a noite no Hawk Mountain Campsite. São 30 espaços para barracas. Fiquei mais pro início, perto da saída. Mas a água era no final, e o ir e voltar era penoso. Quando cheguei já me preparei: enchi duas garrafas com água filtrada e o reservatório de 2 litros de água pra filtrar. Assim não precisaria voltar pela manhã.
Uma hora. É o tempo que preciso pela manhã pra desmontar acampamento. A rotina: esvaziar o isolante térmico, colocar no saco. Enviar o saco de dormir no saco. O saco de dormir vai primeiro na mochila: me dá um conforto na coluna por ser macio e fica mais protegido de chuva. Buscar a comida e preparar o café (hoje foi oatmeal, aquele mingau deles. Amanhã vai ser granola). A comida vai depois na mochila, com o isolante do lado. Troco de roupa e o saco estanque com minha blusa e roupa de dormir, que tinha servido de travesseiro na noite, vai na mochila depois. Por fim entram o fogareiro e os eletrônicos. Desmonto a barraca e ela vai do lado de fora, na parte de trás. De um lado vai o filtro e uma garrafa de água. Do outro a corda pra pendurar a comida e a outra garrafa. No topo minha lanterna, papel higiênico e uma capa de chuva. E nos bolsos laterais meu almoço (duas barras de cereal) no lado esquerdo e o telefone e passaporte no lado direito. Tudo tem seu saco isolante e seu lugar. E vai ser assim até o final: do contrário vou acabar esquecendo alguma coisa pelo caminho.
A caminhada foi puxada. Pelo menos duas montanhas – Sassafras e Big Cedar – de tirar do sério. Entre elas mais duas, menos puxadas. Saí cedo – pouco depois das 7h – e cheguei cedo – por volta de 4h da tarde – mas mesmo que desse conta (confesso: não daria) não poderia andar mais. Lance Creek, onde estou, é o último local pra dormir sem a obrigatoriedade de um bear canister (um recipiente de plástico pra colocar a comida e o urso não conseguir pegar) das próximas milhas. Minha comida já tá ali dependura e amanhã é pegar, botar na mochila e cruzar até o próximo camping.
Jose Gustavo Marques da Silva
Olá Jeff
Acompanhando desde Sampa seus posts. Gostei da micro descrição da rotina matutina.
Boa pernada.
Abraços Gus
Jeff Santos
Massa Gus! Acompanhe aí que tá só começando! Abraço!
Marilza
Dizem que quem dá o primeiro passo já está a meio caminho da chegada, mas em se tratando de quase 3.500 km, penso que não é bem assim. Acompanhando sua caminhada na AT, me vem à memória todas as vezes que não consegui dar o primeiro passo, todas as vezes em que a inércia foi mais forte que a vontade.Então, parabéns pra vc, que conseguiu da o primeiro passo ( e o segundo, e o terceiro, etc….).
Jeff Santos
Obrigado Marilza! O primeiro é realmente o mais difícil. Depois dele a gente vai levando. Mas nunca é tarde 😉