Distância do dia: 54,59 km. Distância total: 1.110, 95 km.
O hotel Frei Galvão, em Guaratinguetá, tinha tudo pra ser um sucesso. Está em um ponto excelente – em frente da catedral, que dá pra ser vista da janela do quarto – e tem quartos relativamente espaçosos. O preço também é bom: $60 é a média do que venho pagando, às vezes menos, poucas vezes mais. Mas apesar disso o pobre hotel não vê uma reforma há anos. As paredes estão sujas, as portas carcomidas, o banheiro mal cuidado. Mas ainda assim – pela localização, pelo preço – escolhi ficar ali. Apesar do refeitório não ser grande, esperava um café da manhã decente. Conversei com o Paulo, o recepcionista (talvez dono) e havia dito que o café era servido a partir das 6h. “Até um pouco antes, se você precisar”. Eu precisava. O dia seria longo e as 6 eu queria estar no caminho. Combinamos 5:45.
Acordei 4:30 com cheiro de pão quente. Não mencionei que a Frei Galvão é em cima de uma padaria, o que garantia, pensava eu, o pão logo cedo. Me preparei e as 5:45 como combinado estava no refeitório (que era do lado do meu quarto). Luzes apagadas, nada posto. Não dava pra eu esperar. Desci as escadas e quando tirava o cabo de vassoura que fechava a porta ouço um grunhido vindo da recepção. A responsável pelo café dormia na cadeira e acordou com meu barulho. “Perdeu a hora do café, né?”, eu disse, mais pra constatar que provocar. “Perdi mesmo. Mas faço rapidinho”. Agradeci e saí de estômago vazio pra mais de 50 km de caminhada.
Eu estava prevendo. No do anterior passei no supermercado e comprei mais algumas barrinhas de cereal, dois pacotes de biscoito, uma barra de chocolate é uma garrafa pequena de vinho. O vinho bebi a noite no quarto, comendo um hambúrguer horroroso comprado na esquina. O resto das compras fui consumindo durante a manhã. Cinco barras de versos, um pacote de biscoito, meia barra de chocolate, antes que derreta toda…
O trecho de Guará a Cunha é chato. Muito asfalto, pouca paisagem. É como aquele episódio insosso antes do gran finale. Pelo menos espero. Esperava mais subidas – tem algumas, mas não tão fortes. A parte no asfalto é aquilo de sempre: ruído, barulho, atenção no talo, sinalização pros motoristas dizendo “olha eu aqui”. Depois de 10km de subida leva a planilha dizia de uma subida mais forte, até o km 20, em estrada de terra. Meu plano era superar esse trecho antes do sol sair “de verdade”, o que tem acontecido lá pelas dez. Era 9:40 quando voltei pro asfalto. A partir daí seriam mais umas 4 horas de mais ruído, mais carros. Com um diferencial: o sol começava a ficar quente, o que piorava as coisas.
Voltei pra terra quando as placas marcavam “Cunha: 10km”. Na planilha seriam mais quase 14. Entrei à esquerda e mais dúvida, mais descida, mais subida, mais cascalho, mais cachorro…. Mas nada de ruídos, barulhos ou carros – exceto aluna fusquinhas que passaram por mim.
Cheguei a Cunha bem: antes das 4 da tarde, como previsto, fazendo uma média de 5 km por hora. Peguei informações sobre o próximo trecho, carimbei meu passaporte e consegui uma pousada que a dona garantiu que meu café estará servido às 5h, quando pretendo sair.
O trecho final, até Paraty, é o mais longo da Estrada Real. São 57 km, uns 35 de subida braba da serra, o resto de descida até o mar. Existem várias opções de hospedagem no caminho. E muita gente divide o percurso em dois: um dia de subida, outro do só descendo. Resolvi encarar tudo numa tacada só: 57 km de caminhada amanhã. O gran finale. O episódio duplo de encerramento. Vamos lá. Chegar em Paraty muito antes do esperado.
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