Estrada Real S01E24: Caxambu a Pouso Alto

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Distância do dia: 51,03 km. Distância total: 943,10 km.
Terminei o dia tão cansado que o máximo que consegui foi comer um pão com linguiça e experimentar dois dos refrigerantes locais, o Guaranita e o Mantiqueira. São bons os danados. Deveria ter comido mais, mas o cansaço bateu, a vontade de comer sumiu e aposto que vou acordar a noite com fome…

O cansaço e a falta de vontade de comer são consequência da bagunça que o IER faz nas planilhas da Estrada Real. Veja: a planilha diz que de Caxambu a São Lourenço são 26,85 km. Nas marcações nos marcos é menos, já que quando você chega na periferia da cidade, no último marco, a distância até o ponto final – a Estação de Trem – é zero. Mas ainda faltam 3 quilômetros. E da estação de trem é preciso ir até ao Parques das Águas para o carimbo – mais uns dois. E depois seguir até a rodoviária, onde começa o próximo trecho, até Pouso Alto. Some mais uns 5, por baixo. Ou seja: são 10 km a mais no dia, que já somava 41. Terminei o dia andando mais de cinquenta quilômetros, o que só estava prevendo voltar a fazer no último dia, entre Cunha e Paraty.

O dia só não foi mais lesado (ok, corredor, era pesado mas lesado ficou bom também) porque o caminho a partir de Caxambu é tranquilo e cheio de retas. É tranquilo até a chegada a São Lourenço. Primeiro, quando você acha que está chegando – o asfalto e a linha do trem estão logo à frente – o caminho faz uma curva e sobe um ladeira sem sentido. Depois a confusão de chegar à Estação de Trem e sair da Rodoviária. Foi pouco antes da estação que encontrei com o Allan, também de BH. Fazendo a trilha de bicicleta, esperava um parceiro que tinha ficado pra trás. Conversamos as coisas de sempre de quem faz a estrada: vindo de onde, até onde, fazendo quantos quilômetros por dia, dormiu onde ontem… “No Roberto. Dormiu lá também? Cara, o que é aquilo! Passei mal o dia inteiro. Tive que ir no banheiro umas dez vezes…”, disse o Allan. Ou alguém divulga o telefone da dona Chiquinha ou o Roberto ainda vai mandar alguém pro hospital.

Não vi mais o Allan durante o dia: deixei recado pra ele no Centro de Informações ao Turista, onde ele poderia passar pra carimbar o passaporte, que eu estaria no Unique Café até uma da tarde, quando continuaria pra Pouso Alto. Era o único lugar que poderia parar na cidade: considerado uns dos melhores cafés do Brasil e uma loja/lanchonete conceito no centro da cidade, o Unique não me decepcionou. Fiquei ali uns 40 minutos, experimentando cafés e descansando. Quando saí, foi mais uma hora até a rodoviária.

São Lourenço era minha meta no início da Estrada. Pela minha previsão, só chegaria aqui lá pelo dia 30. Mas mesmo com os quatro dias sem caminhar acabei andando mais que o previsto. O jeito era continuar na estrada, ir até Pouso Alto e de lá continuar até Paraty.

No início do trecho de terra vi o Jean seguindo alguns metros à minha frente. Cabelo descolorido, tênis cano alto, camiseta de time basquete, mochila mas costas e laptop na mão esquerda, só consegui identificar que ele ouvia música saindo do computador quando cheguei do seu lado. “É Racionais que você tá ouvindo?”, perguntei. “É, aquele disco mais antigo. (Era o Nada Como Um Dia Após O Outro Dia, de 2002). Você também fuma um?”, me pergunta ele assim, na lata. E seguimos uma meia hora batendo papo, até o rio que separa São Lourenço de Pouso Alto. Foi ele quem me disse que dois caras de bicicleta – provavelmente Allan e seu amigo – haviam passado por ele pouco antes.

Quando cheguei à cidade, fui procurar o Hotel SerraVerde, o único local aberto pra carimbar o passaporte (como hoje é sábado, o outro local credenciado, a Secretaria de Turismo, estava -claro – fechada). Perguntei o preço da diária: “Seiscentos e sessenta reais”, me disse a recepcionista. “Tenho certeza que o conforto é proporcional ao preço, mas está bem acima da minha verba de viagem. Na verdade, é mais do que tenho disponível pro resto da minha viagem inteira”, comentei.

Acabei vindo pra Pousada Estrada Real (que não está entre as indicadas pelo IER),  negociando o valor da minha diária e pagando 1/11 do valor da outra. E pra jantar, a opção é sair do centro da cidade e  ir até a rodovia, onde comi meu pão com linguiça na Casa da Linguiça. Mas alertei: já estou com fome, queria ir ali comer mais um, mas cadê coragem?


 


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