Appalachian Trail S01E29

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Dia 29, 13/05: Campsite sul de TN 91 (447.0) a Damascus (470.0)

Distância do dia: 23 milhas | 37,01 km

Distância total: 478.8 milhas | 770,55 km

Confusões, tropeços, problemas. Pela primeira vez não escrevi o relato no final do dia. Estou escrevendo no dia seguinte, à tarde. Mas antes de contar como foi o dia de ontem deixa só eu falar duas coisas:

Lembra que escrevi que acordei à noite com os clarões dos relâmpagos? Pois é. No decorrer do dia encontrei com outro caminhante e ele me perguntou se eu tinha visto a árvore enorme destroçada por uma raio bem no final trecho de Watauga Lake. Não, eu disse. Já tinha passado. “Cara, tinha pedaço de madeira a uns cem metros da árvore. Uma árvore gigante, tipo aquela ali…” Se era no final do trecho de Watauga era bem próximo de onde eu acampei. Tá explicado porque os clarões eram tão fortes e porque o tempo entre eles e os trovões era tão curto…

Lembra que eu disse que disse da chuva e da água na barraca tipo barco à deriva? Pois é. Encontro com três locais, mãe e filhas. A mais nova ia fazer um trecho da trilha. A mãe me pergunta: “onde você estava durante o tornado ontem?”. Oi?? “É, bem aqui em Shaddy Valley…” Eu acampei na milha 447. Shaddy Valley está na milha 453. Do lado. Um tornado. E eu lá, acampado…

Além disso eu falei também que tinha montado a barraca super bem e tal né? Só que ela ficou no caminha da enxurrada que escorreu da trilha pro camping. E quando eu já tinha secado tudo e tava pra dormir eu senti que meu isolante térmico estava praticamente boiando (ele é desses infláveis). Conclusão: tive que esperar dar uma estiada e mudei a barraca de lugar. E só depois que fui que ela estava bem debaixo de uma árvore que tinha caído e estava escorada em outra árvore. Pra não ter que mudar de lugar de novo só deitei de modo que se a árvore caísse no meio da noite ela cairia nas minhas pernas e não na minha cabeça. Eu ficaria paralítico mas sobreviveria….

Pra completar: desde Erwin, TN (milha 342, nem sei mais há quantos dias) meu cartão não funcionava. Em Hampton tentei comprar comida e pagar o Subway com ele e nada. E há uns três dias o telefone também estava mudo. Eu estava ficando sem dinheiro – tinha menos de cem dólares – e já estava sem telefone. Iria chegar em Damascus, precisava comprar comida pra pelo menos três dias e pagar pelo hostel. Meu dinheiro provavelmente não daria pra isso. Mesmo se desse eu teria problemas na próxima cidade.

Para, pensa, bota a cabeça no lugar e tenta resolver seus pepinos, Jeff, porque só depende de você…

Primeiro: preciso achar um lugar pra ficar que não vai me cobrar os 20, 25 dólares dos hostels. A Igreja metodista de Damascus tem um casa paroquial onde caminhantes da Appalachian Trail e ciclistas da Great National Tour, só esses dois grupos, podem ficar. É por doação (sugestão: 7 dólares) e tem banho. Garanti um lugar por lá assim que cheguei. Pra resolver o cartão eu precisava do telefone. Aí que me dei conta que mesmo ainda não tivesse 30 dias que eu estivesse caminhando já tinha 30 dias que tinha comprado o chip. Era falta de crédito. Dos 80 dólares que tinha me restado passei numa loja e coloquei 30 de crédito. Nada. O plano que o burro aqui tinha feito exigia o pagamento de 70 dólares por mês… bota mais 40, telefone funciona, consigo ligar pro meu cartão. “Pra gente tá tudo certo, senhor. Aparece a tentativa de compra na Subway mas nada depois disso… faz o seguinte: tenta efetuar outra compra agora é eu ligo pro senhor em 30 minutos”. Ao invés disso achei um banco 24 horas e consigo sacar algum dinheiro. Menos mal. Já posso jantar e comprar comida. O cartão continua não funcionando como crédito, nem débito, mas consigo ter dinheiro em mãos…

Tudo resolvido. Menos tenso. Mais aliviado. Mesmo porque entrando na Virginia o sol resolveu dar as caras. Ia pensando em Virgínia, a música dos Mutantes: “mas por favor Senhor Sol, me dê de volta Virgínia…” Eu só queria o contrário: por favor Virgínia, me dê de volta o senhor sol…

Sim, entrei no quarto estado. Dizem que as coisas ficam mais fáceis a partir daqui. E o verão está chegando, o que deve garantir dias mais secos e quentes. Minhas preocupações passa a ser os insetos, os carrapatos e os ursos que começam a acordar da hibernação.

Damascus é um amor de cidade. A capital da trilha, que passa bem pela rua principal, onde tem uma espécie de calçada da fama da AT. Um supermercado, dois bons restaurantes, duas lojas de equipamentos, meia dúzias de pousadas e um grande festival, o Trail Days, que acontece final de semana que vem. Já estou me programando pra pegar um carona e voltar.

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